"A nossa vida melhorou demais em todos os sentidos."

Já pensou se casar e na mesma semana mudar para um país desconhecido por muitos? Pois é, Juliana Colpani fez isso. Há exato um ano ela chegou com seu marido na cidade-Estado de Cingapura, onde se impressionou com a infraestrutura.





Juliana Colpani

30 anos
Cidade de Cingapura, Cingapura
Cidade Natal: Erechim, Rio Grande do Sul
Casada

Você mora sozinha? Com quem mora?

Não, eu moro com o meu marido Vinicius Rosa no condomínio que a Universidade dispõe para os professores de outros países.

Há quanto tempo está no país?

Estamos aqui desde 06 de Outubro de 2012.

Com o que você trabalhava no Brasil e qual o seu trabalho atual?

No Brasil eu era dentista. Aqui eu trabalho para uma empresa de produtos Odontológicos  Nós compramos produtos dos Estados Unidos e vendemos em Cingapura. Eu sou a Gerente de Vendas.

O que te levou a sair do Brasil?

Na verdade eu vim por causa do meu marido. Ele foi contratado como Assistant Professor na Universidade Nacional de Cingapura (NUS), na área da Odontologia.

Porque escolheu Cingapura?

Ela nos escolheu! O Vinicius foi convidado para trabalhar aqui e não pensamos duas vezes!

Conhece o Idioma? Já conhecia quando se mudou?

Quando eu cheguei não falava muuuuito bem inglês. Para o meu marido não foi problema. Mas eu no início, senti muita dificuldade, até porque aqui eles falam Singlish, que é, às vezes, impossível de entender! É uma mistura de dialetos e sotaque muito fortes. Difícil!

Qual o custo de vida? É mais barato ou mais caro em relação à sua cidade natal?

O custo de vida depende em que ponto. Aluguel e carro particular são caríssimos. Muito mesmo. Mas comida, transporte e lazer são mais baratos que no Brasil com certeza.

Qual a relação de infraestrutura de Cingapura você faz com sua cidade natal?

Infraestrutura é o forte daqui. Essa cidade é incrível! Realmente tudo funciona. Beeem diferente do Brasil. Como eu venho de uma cidade pequena do Rio Grande do Sul e tudo é muito perto e fácil, não posso comparar. Mas se comparar com as cidades grandes do Brasil é outra historia. O metrô, o ônibus e ate os táxis são baratos. Isso faz com a gente não sinta falta de ter carro. A restrição e os altos valores para se ter um carro aqui são necessários. A ilha de Cingapura é muito pequena e se não fosse tao caro, ia ser impossível se locomover aqui! A cidade é muito limpa e isso se deve as multas altíssimas que são aplicadas se você fumar em lugar inapropriado, jogar lixo no chão, essas coisas básicas da educação. A educação é exemplar, os colégios locais são muito exigentes e bons. Só que aqui não é um lugar para “chegar e tentar a vida”. Cingapura te quer “pronto”. O mercado é aberto para os já capacitados não para os que estão começando. 

O que te chamou atenção na cultura do país?

Aqui é uma mistura de várias culturas. Temos chineses, indianos, malaios, filipinos, americanos, europeus, russos....uma legítima Torre de Babel onde todo mundo se entende e se respeita. Temos feriados nacionais em cada Ano Novo ou celebração importante de cada religião. É muito legal e interessante. Num mundo onde as lutas e guerras religiosas estão tão latentes, aqui se vive em paz.

Tem alguma história engraçada/inusitada que aconteceu com você no país?

Bem no comecinho, nem tinha completado um mês.

Na cozinha aqui de casa tem um balcão que se você pensar perto dele, ele risca, então eu e meu marido encomendamos um tampo de vidro para ele. O local onde fazem este tampo é em um bairro chamado Little India.

Então almocei e peguei um metrô da Universidade até o tal Little India. Chegando lá não estava chovendo, era um dilúvio! Sério, chovia tanto, de tudo que é lado! Em 2 segundos eu estava com as calças molhadas até a metade da coxa (tendo e vista que eu tenho 1,57 de altura, então molha até ali sim). 

Enquanto eu caminhava no dilúvio e tentava achar o tal do lugar do tampa de vidro, sentia uns pingos no meu ombro. Sim, goteira no guarda chuva! Chovia tanto que a água passava pela costura do tecido do guarda chuva! hauahuahaua! Além disso, o cheiro de comida era insuportável! Eles vendem carne de bode, imaginem o cheiro disso frito.

Ok, achei o tal lugar. Quem me atendeu foi um indiano (lógico). Ele chegou e estendeu a mão. Eu fui dar a mão pra cumprimentá-lo e ele tirou a mão rápido. Ele queria o papel que estava na minha mão com o pedido e não me cumprimentar! hauhauahaua!

Não nos entendíamos de jeito nenhum. Aí ele fez sinal para eu esperar que ele ia chamar alguém. E então veio um chinês. Jesus! Hauahauhauaah. Nós três ríamos porque ninguém se entendia! Quando fui preencher a nota precisava do número do meu celular. Como ele é novo eu fui olhar na minha agenda porque ainda não sei de cor. Mas eu estava sozinha, eles nem me olhavam. Quando levantei a cabeça o indiano me falou: "ni nhumbé" e riu e eu não entendia. Depois de muitos sinais eu entendi o que ele me disse: New Number! Hauhauahaua. Pedido feito, consegui. E depois voltei quase de barco até em casa.

O que do Brasil te faz mais falta? Em que momento você sente/sentiu mais saudade?

Eu sinto falta da família, dos amigos. Isso pesa bastante. Agora que eu e o meu marido trabalhamos, que o dia é corrido, até que não é tão ruim. Mas em datas como dia das mães, dos pais, aniversários, Natal, ano novo, fica mais difícil segurar o coração. Sinto falta do churrasco do meu pai e sogro, da maionese e sobremesas da minha mãe, do café e das saladas da minha sogra.

Do que você não sente falta no Brasil?

Não sinto falta do estresse. Isso resume bem. Lá a nossa vida estava muito estressante. Trabalhava demais e não dava a volta com o dinheiro. Além de termos que cuidar quando saíamos de carro, quando caminhávamos nas ruas, tudo muito perigoso. A gente não relaxava. Aqui podemos sair de casa sozinho, a qualquer hora mesmo. É muito seguro. Inacreditavelmente seguro! Chamamos de “bolha”. Aqui a vida passa fácil! Me sinto valorizada. Lá as vezes me sentia insuficiente. Enfim, não sinto falta do estresse!

Você gosta da comida local? É muito diferente da brasileira?

Eu gosto da comida daqui. Podemos comer comida chinesa, japonesa, malaia, indiana, várias opções! No começo eu não aguentava a pimenta, mas agora até gosto e uso em casa. Eles tem hábitos bem saudáveis, o que eu estou começando a apreciar e aderir.

O que você costuma fazer nos momentos de folga? Quais os programas e lazeres existem para se fazer na cidade?

Aqui em Cingapura você tem atrações de segunda a segunda. E o melhor: não é caro! Tem opções para todos os bolsos! Moramos aqui há um ano e ainda saímos para conhecer lugares novos para nós. Sempre tem uma exposição, um show, um evento. Nós também mantemos os velhos hábitos como churrasco, academia e cinema. Hehehe! O programa depende do clima. Chuva torrencial ou sol de queimar a cabeça! Sempre os extremos!

Você encontrou algum problema para obtenção de documentos e visto?

Não, não tivemos problemas porque a Universidade providenciou tudo.

O que você menos gosta na cidade, ou no país?

Hummm... o que eu menos gosto daqui é que não posso ter carro. Sinto falta do meu. Aqui é muito caro ter um, mas eu entendo. Aqui  é uma ilha muito pequena e com muito dinheiro. Se hoje em dia, com todos os altos custos de ter um carro, perto das 18h é horrível o congestionamento, imagina se fosse barato. O táxi é barato, ônibus e metrô toda hora, então dá pra se virar bem. Além do aplicativo no celular que diz quanto tempo falta pro ônibus chegar à tua parada, aí é só esperar alguns minutinhos.

Qual a relação dos nativos com brasileiros? Você possui amigos cingapurianos?

Eu tenho muitos e bons amigos cingapurianos  São pessoas muito educadas e gentis. Não tenho do que reclamar. Me receberam super bem e a amizade cresce a cada dia. Eles não são como brasileiros que já se juntam na casa de um, mas do jeitinho deles, eles conquistam a gente!

O que é falado sobre o Brasil por aí?

Aqui quando você fala que é do Brasil eles piram! ADORAM! Todos conhecem o que todo estrangeiro conhece: Rio de Janeiro, São Paulo, Cataratas do Iguaçu, Amazônia, futebol e carnaval. Agora com a Copa do Mundo e Olimpíadas, muitos irão para o Brasil. Estão empolgadíssimos!

Gostam da música brasileira? Como é a repercussão das nossas músicas aí? 

“Bará bará bará...berê berê berê” hahahaha! Adoram. As vezes em livrarias você escuta Chico Buarque, Tom Jobin, mas eu tenho uma leve suspeita que eles não sabem que é do Brasil. Mas essas mais famosas e do momento, tipo Michel Teló eles sabem e cantam. Estou esperando o Show das Poderosas desembarcar aqui agora! 

Quais são os principais ídolos atualmente no país?

Na música é Kpop Band. E eles gostam muito de Golf, muito mesmo.

O que você costuma assistir na TV?

Eu pago TV fechada. Mas assistimos o Singapore Journal a noite para nos atualizarmos sobre o país. No mais, assisto programas americanos mesmo!

Há alguma mania/febre no país atualmente?

Quando chegamos a febre era o Gangnam Style. Até no show dele (PSY) nós fomos!  Agora são essas Kpop Band. Mas eu não gosto, não entendo nada!

Eles são loucos por unhas e cílios postiços também. Fico impressionada, elas usam todos os dias.

Você conheceu/utilizou algum produto ou serviço que recomendaria a ser utilizado no Brasil?

Produto não, mas os aplicativos que eles têm da cidade...PARA TUDO QUE EH COISA, são ótimos! São aplicativos de como caminhar pela cidade sem se molhar, por dentro de prédios e shoppings, através das passarelas. Isso eu acho muito útil.

A população se envolve muito com a política? Qual a opinião/relação geral e sua do atual governo?

O governo agora tem no jornal da noite uma hora e meia com o Primeiro Ministro respondendo e conversando com a população. É muito interessante. Eles aqui decidem e fazem mesmo, não tem enrolarão. A população se interessa. Mas aqui a expressão de opinião não é tão liberada.

Você gosta da música do país? Tem algum cantor/banda que recomenda?

Eu não escuto a musica de Cingapura porque não entendo! Hehehe!

Conhece alguma história (ou lenda) da cultura que pode contar?

A lenda mais famosa com certeza é a do Merlion, criatura com a cabeça de um leão e o corpo de um peixe. Ele está no centro da Marina de Cingapura. Diz a lenda que em Sentosa, logo abaixo do Monte Imbiah, ficava a casa do Merlion Real, o lendário guardião de Cingapura. Antigamente Cingapura era conhecida como Temasek, sendo descoberta no 11º século dC pelo príncipe Sang Nila Utama do império Sri Vijaya. Ele renomeou a ilha de Cingapura, em sânscrito depois que viu um grande leão. O príncipe também ouviu a lenda de como essa criatura chegou à ilha de Sentosa. Diz que em uma noite de forte tempestade, que destruía toda a ilha, essa criatura lutou contra raios e trovões que atormentavam os aldeões. Por isso ele é considerado o protetor de Cingapura.

Existe algum programa do governo que lhe chame a atenção?
Aqui existe um programa de incentivo ao aumento da quantidade de filhos. O primeiro ministro visa aumentar a média de filhos por casal (essa média é de mais ou menos 1,8 por casal). Para isso o governo prevê bônus as empresas que permitam que as mães tenham 8 semanas de licença pós parto (o normal é 4), além de dinheiro na conta dos pais (por ano) para cada filho que nascer: em média no segundo filho $300 dólares americanos por ano e no terceiro filho $600.

Pensa em voltar para o Brasil? Se sim, quando?

Não pensamos em voltar pro Brasil não. Mas a gente nunca sabe!

Qual o seu sentimento por Cingapura?

Eu amo este lugar. Estamos realmente muito felizes. A nossa vida melhorou demais em todos os sentidos. Estamos ainda em Lua de Mel porque nos casamos no sábado (29 de Setembro 2012) e viajamos na quinta (dia 05 de outubro). Fui muito bem acolhida aqui! O grupo de brasileiros é muito legal e os amigos nativos e do mundo todo que nos cercam só completam um sonho de estilo de vida que sempre tivemos.

Se tivesse um filho, quais características ensinaria/gostaria que ele tivesse do jeito brasileiro e da maneira cingapuriana de ser?

Com certeza a vontade e dedicação aos estudos deles. Heheheheheh. Aqui eles estudam muito. Muito mesmo.

Que conselhos você daria a quem pretende visitar ou até mesmo se mudar para o país?

Para quem pretende visitar: VENHA! É incrível! Não conheço ninguém que veio e não gostou. Vale a pena cada centavo investido para conhecer esse lado do mundo. Só evite a época das monções (chuvarada e muito calor), que geralmente começa em novembro e vai até a metade de dezembro.
Para quem quiser vir morar: venha com emprego e visto garantido. Aquilo eles sempre falam: queremos as pessoas prontas. Não é como nos Estados Unidos, onde você pode ir tentar a vida, começar do zero. Aqui isso não existe. Mas eles estão abertos ao mercado de estrangeiros. Portanto, se qualifique e tente. Vale a pena!