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"Tenho uma relação de amor e ódio, tanto com o Libano, quanto com o Brasil."



Claudia chegou de mudança ao Líbano sem nunca ter visitado o país. Hoje, prestes a completar 5 anos em terras asiáticas, ela confessa não concordar com muitos aspectos de lá, mas não pensa em voltar ao Brasil. 






Claudia Rahme
37 anos
Jounieh, Líbano
Cidade Natal: São Paulo, SP
Casada

Você mora sozinha? Com quem mora? 
Não. Moro com marido e duas filhas, de 13 e 9 anos.

Há quanto tempo está no país? 
Em dezembro completarei 5 anos vivendo no Líbano.

Com o que você trabalhava no Brasil e qual o seu trabalho atual? 
No Brasil eu não trabalhava. No Líbano, há um ano, fundei com dois irmãos brasileiros-libaneses um portal semanal online de notícias do Líbano em português, voltado para a comunidade brasileira no país e também para a comunidade libanesa no Brasil.

O que te levou a sair do Brasil? 
Bom, acredito que toda pessoa que se case com estrangeiro está fadada algum dia a ir para o país de origem do cônjuge, para conhecer a família da pessoa, a cultura, os costumes. E comigo não foi diferente. Eu já estava casada ha 10 anos e não conhecíamos a família dele, o país, a cultura, os costumes, nada. Nem árabe minhas filhas falavam. Então decidimos mudar para o Líbano, para que pudéssemos conhecer a outra família, e minhas filhas conhecerem a cultura e o país do pai delas.

Porque escolheu o Líbano? 
Porque é o país de origem do meu marido, e onde reside toda a família dele. 

Você conhece o Idioma? Já conhecia quando se mudou?  
No Líbano existem três idiomas oficiais: o árabe, o francês e o inglês. 
Quando chegamos aqui, eu e as minhas filhas não falávamos nenhum dos três idiomas, apenas o português. Eu sempre tive predisposição para o inglês,  e por ser o idioma mais fácil de ser aprendido e ser uma língua internacional, eu optei por ele, para ser a minha língua oficial e de sobrevivência aqui. Minhas filhas não puderam entrar na escola no ano letivo em que chegamos, mas estudaram em casa, com professor particular, diariamente (2hs por dia), o árabe e o inglês, para que pudessem frequentar a escola no ano letivo seguinte. 
As escolas no Líbano possuem o programa nacional, lecionado em árabe, e oferece ainda duas outras seções opcionais, para se estudar: A seção inglesa, onde o conteúdo é todo em inglês e árabe, e o francês entra como terceiro idioma, opcional. A seção francesa, onde o conteúdo é dado em árabe e francês e o inglês é o terceiro idioma, opcional. 
De fato, todos os libaneses falam os 3 idiomas, mas dependendo da educação escolhida desde o início da vida estudantil da criança, na fase adulta ele será mais fluente, em francês ou em inglês (além do árabe, claro). Eu escolhi o inglês pra elas, pela maior facilidade de aprendizado, por ser uma língua falada em todo o mundo, e também, porque a gramática do francês é mais complexa. 
Hoje, elas dominaram o árabe e o inglês, e entendem um pouco de francês, mas elas não fazem parte do programa nacional, porque são estrangeiras e foram alfabetizadas no Brasil. A UNESCO deletou o árabe e o francês da grade escolar delas, quando eu disse que elas iriam para a seção inglesa do colégio. Elas assistem todas as aulas, mas não são obrigadas a estudar, ou a fazer exames, e não têm notas em árabe e francês também, no boletim. O fundamental pra elas é o conteúdo oferecido na seção inglesa, que além das aulas de inglês,  tem outras matérias também, mas por enquanto, elas não estudam todas as matérias, à medida que elas forem passando de séries, novas matérias serão introduzidas para elas em inglês. 
Falamos inglês na rua e português em casa, e eu entendo apenas algumas coisas em árabe, porque eu não tive interesse, até hoje, de aprender. O árabe é uma língua muito difícil, existe o clássico (falado em telejornais) e o popular (falado na rua). E ainda, pra complicar, o árabe escrito é diferente do falado, e o falado aqui no Líbano é diferente do falado nos demais países árabes, porque o libanês sofreu influência francesa, quando o país esteve sob o protetorado da França. Sem falar nos dialetos regionais e as formas faladas para o homem e para a mulher. 
Enfim, por pura preguiça, eu confesso, eu desisti do árabe e me viro apenas em inglês. Mas não é fácil também, pois nem todo mundo aqui é fluente em inglês, a maioria teve educação francesa, então, quando eu me deparo com algum libanês que não fala muito inglês, eu tenho que me virar, para me fazer ser entendida, rsrsrs.

Qual o custo de vida da cidade? É mais barato ou mais caro em relação à sua cidade natal? 
O custo de vida é alto. Existem coisas que são bem mais caras aqui do que no Brasil, e outras que são bem mais baratas também, mas em geral, o custo de vida no Líbano é bem caro. Os nossos impostos sobre produtos importados, no Brasil, são altos, mas aqui não, o que permite que se tenha acesso a todos os produtos importados, por um preço mais acessível. 
O Líbano importa de tudo, o fato de ter sido um país que sofreu 20 anos de guerra civil e ainda estar se refazendo, com diversos outros problemas e conflitos internos que existem, fez com que as importações se tornassem algo mais viável ao país, que não possui muitas indústrias, de produtos diversificados, e que acaba importando quase tudo. Por exemplo: O país sofre com falta de eletricidade e todos precisam ter geradores de energia elétrica em suas casas a um custo "X" mensal, além da eletricidade do governo. Ou seja, no Líbano, você paga pra ter luz, duas vezes. Paga a conta da eletricidade fornecida pelo governo e paga a luz fornecida pelos proprietários de motores geradores de energia, quando não tem luz do governo. 
Em contrapartida, carros de luxo caríssimos no Brasil podem ser comprados aqui por um custo bem baixo. Eles são trazidos dos EUA e as taxas de importação não são abusivas como no Brasil. Exemplo: No Brasil, uma FJ Cruiser 2006/2007 custa R$110 mil (aproximadamente US$49 mil), aqui, o mesmo carro você compra por US$35 mil (cerca de R$77 mil). Uma diferença bem significativa, que te permite comprar até dois carros.

Qual a relação de infraestrutura da cidade você faz com sua cidade natal? 
O Líbano é um país pequeno, e as estradas são razoáveis, não são estradas estruturadas e cuidadas como as estradas administradas por concessionárias no Brasil. Aqui não tem pedágios, mas também não tem polícia rodoviária ou ambulância nas estradas. Aqui não tem radares e o índice de mortes fatais por acidentes é altíssimo, porque ninguém respeita os limites de velocidade e não usam cinto de segurança também. As leis não são rigorosas como no Brasil.
O transporte coletivo é precário, quase inexistente e obsoleto. Existem muito mais ônibus velhos e mal cuidados, de particulares, trabalhando como transporte coletivo, do que os tais ônibus do governo (que sinceramente eu nunca vi). 
O Líbano tem uma longa costa de norte a sul, então existem muitos hotéis e resorts de luxo, e também hotéis mais simples, mas o país é famoso por sua hospitalidade e arte em receber, então nesse ponto, os estabelecimentos voltados à hospitalidade são muito bons. 
A saúde aqui não é boa, atendimento público até existe, mas até atender todas as exigências e burocracias, o paciente já morreu antes de dar entrada na emergência  Existem convênios médicos e a caríssima opção de ser atendido particular. Uma mísera diária num hospital particular, sem cirurgia e tratamento de emergência, não sai por menos de US$1.500,00. Deixa-se um cheque caução de US$5 mil na administração do hospital na entrada da internação e retira-o após o pagamento dos custos finais, na alta hospitalar. Ou seja, se você não tem cheque e não tem como pagar isso, da noite para o dia, sem chance, não será atendido. Sem falar que existem muitos profissionais e equipamentos defasados, precisando de reciclagem e modernidade, alguns médicos demonstram não estarem muito atualizados sobre as técnicas modernas e atuais de medicina ou de tratamentos. E, infelizmente, também há um alto índice de erros médicos e diagnósticos errados que às vezes levam o paciente ao óbito.  E o médico fica impune, você enterra seu ente e ele continua clinicando, como se nada anormal tivesse acontecido. Mas existem médicos bons também, não vou generalizar, eu ainda não topei com nenhum médico ruim, mas sei de dezenas de casos absurdos.
O ensino nas escolas aqui é melhor e mais forte, as crianças passam cerca de 7hs por dia e estudam muito o tempo todo. Ao término dos estudos, o formando sai da faculdade com um diploma e fluente em três idiomas, o que no Brasil, abriria muitas e boas portas de trabalho. Mas, se a pessoa não tiver dinheiro para abrir seu próprio estabelecimento ao se formar, muito provavelmente ficará desempregada, porque não há emprego no Líbano para a juventude. Embora muitos tenham uma excelente formação acadêmica, não há ofertas de emprego e parte dos libaneses que podem e conseguem, acabam saindo do Líbano pra viver e trabalhar em outro país. Mas, quem não tem condições de se mudar, não tem parentes no exterior ou não consegue um visto para outro país, fica por aqui mesmo, desempregado e em busca de alguma oportunidade. Atualmente, com a guerra da Síria e mais de 1 milhão de refugiados sírios no país, a economia do país se deteriorou, o turismo caiu, o desemprego decolou, está tudo muito mais difícil e complicado.
A limpeza também é um fator problemático no Líbano. O libanês tem o hábito de jogar tudo para fora de suas janelas (seja do carro ou da residência), então, não se pode dizer que o Líbano é um país limpo, com um povo educado, organizado, com consciência ambiental, ecológica. O nível de poluição em Beirute, por exemplo, é 2/3 acima do limite global, mas uma minoria se importa com isso, afinal ninguém quer sair de casa sem carro, e em média, cada família possui no mínimo 2. 
Programa de reciclagem aqui é nulo, até existe algumas iniciativas boas de algumas ONGs, mas nada que atinja a grande massa e as faça participar. As águas do lindo mar mediterrâneo também estão impróprias para banho, na maior parte da costa do país. As grandes cidades do Líbano sofrem com centenas de problemas e as aldeias e vilarejos de montanhas, embora ofereçam uma qualidade de ar e de vida mais pura e limpa, não têm muita infraestrutura também. É um país muito lindo, mas profundamente mal administrado, mal cuidado, e que precisa de milhares de melhorias e mudanças, em vários setores.

O que te chamou atenção na cultura do país? 
Eu gosto da cultura libanesa, gosto da gastronomia, dos costumes festivos, das tradições históricas e culturais. Eu reclamo muito também, critico bastante, mas eu gosto daqui. Apesar de tantos pesares, eu não pretendo voltar para o Brasil, porque eu gosto de muitas coisas aqui. O que eu mais admiro na cultura libanesa é a história de mais de 7 mil anos, o fato de ser uma região onde o povo da bíblia passou e viveu por aqui, além de outros povos, outras civilizações, e que deixaram seu legado, suas tradições. 
Gosto da cordialidade e da acolhida que o povo libanês oferece aos estrangeiros, do tratamento gentil que eles têm, em situações simples e sem importância, pra gente no Brasil. Eu não sei explicar direito, mas tem um ar de "Ahla w Sahla" (bem vindo em árabe) em todo lugar. Isso para o estrangeiro que passa a viver aqui é confortante, porque tem dias que a gente acorda com saudade da pátria e aí você vai num mercado, a pessoa percebe que você é de outro país e te fala coisas bobas como esse "Ah você é do Brasil? Você é mais do que bem vindo ao Líbano". Eu moro aqui há quase 5 anos e ainda escuto isso. E eu gosto. 
Você compra um sapato e a pessoa na loja de parabeniza pela compra...rsrsrs... Você vai no cabeleireiro e todo mundo no salão te parabeniza pelo novo visual, sempre com um sorriso sincero no rosto. Pode parecer besteira, mas isso é gostoso! Faz você se sentir acolhido, querido e bem vindo no país. Mesmo que você já more nele há 5 anos, 10 anos, não importa, o libanês tem sempre esse tratamento com as pessoas e isso faz bem pra quem recebe. Eu não via isso no Brasil. 
Ok, nem todo mundo é doce e gentil, tem muita gente ignorante por aqui também, tem pessoas assim em qualquer canto do mundo, mas esse carinho libanês é diferente, só quem passa por isso entende e isso é parte da cultura libanesa.

Tem alguma história engraçada/inusitada que aconteceu com você no país? 
Ah eu tenho várias, principalmente pelo fato de não falar árabe, vivo pagando meus micos no país e acabo rindo e compartilhando o ocorrido, para todo mundo rir de mim e comigo. Por exemplo, "cenoura" e "pedra" têm a pronúncia semelhante em árabe. Às vezes, eu tento falar algumas coisas em árabe por aí, mas quase sempre eu nunca acerto. 
Pois bem, um dia entrei num mercadinho e quando o funcionário me perguntou o que eu queria, eu tentei falar que eu queria 1kg de cenoura (“jazar”), mas acabei falando que queria 1kg de “hajar” (pedra). Ele estranhou e falou que não tinha e eu apontei para as cenouras e falei que eu queria 1kg delas. Ele percebeu a minha confusão, e falou que eu queria JAZAR e não de HAJAR, e rimos. 
Até hoje eu debocho de mim mesma, falando que vou ao mercado comprar 1kg de pedras e sento a beira mar e taco cenouras na água, rsrsrs... Eu tenho várias situações desse tipo aqui, existem muitas palavras com pronúncias semelhantes e eu sempre confundo tudo, fora que  falo com homem e com mulher da mesma forma, porque nunca sei a palavra certa para um e outro. 
Meus micos aqui são todos relacionados ao idioma, fora que várias palavras em árabe lembram palavrões ou sinônimos de palavrões em português, o que acaba virando motivo de muitas gargalhadas.

O que do Brasil te faz mais falta? Em que momento você sente/sentiu mais saudade? 
Eu sinto falta de diversas comidas do Brasil que não existem aqui, aliás, essa é uma saudade clichê de todo brasileiro no exterior, mas é real. Você sentir vontade de comer algo e lembrar que não existe no país onde você está vivendo, por isso quando se encontra produtos brasileiros aqui é uma alegria só.
Sinto falta também das praias, porque aqui a maior parte da costa foi invadida por hotéis, resorts e restaurantes, e quando você decide ir à praia, tem que pagar pra entrar. O mediterrâneo é lindíssimo, ver o pôr do sol nele é muito bonito, mas não existem calçadões aqui, pra você sentar a hora que quiser, não existem muitas praias com areia, a maioria é de pedras e não dá pra acordar, caminhar na praia, sentar na areia, ver o mar e o pôr do sol, como fazemos no Brasil, ainda que você tenha um mar de um divino tom de azul na sua frente. Eu já senti saudades do Brasil, em diversas situações, mas depois passa... a realidade me faz esquecer.

E do que você não sente falta no Brasil? 
Da violência, assaltos, sequestros, insegurança... Pode parecer piegas eu falar isso, vivendo num país do oriente médio, onde posso encarar uma guerra a qualquer momento, mas o Líbano ainda é um lugar seguro pra viver, pelo menos na região onde eu moro, onde não existem conflitos religiosos entre grupos islâmicos ou atentados. Mas a violência e a criminalidade estão crescendo aqui, por causa dos refugiados sírios e o sossego, nesse sentido, também está acabando. Mas aqui pelo menos ainda dá para andar mais seguro do que no Brasil.

Você gosta da comida local? É muito diferente da brasileira?
Sim, eu gosto de comida libanesa, mas não tudo. Tem pratos que eu não como nem por decreto! Eu gosto do básico, que também pode ser encontrado nos restaurantes árabes no Brasil, como: Hommos, babaganuj,  Lábane - entradas -, tabule e fatuche - saladas -, mashewi - churrasco -, shawarma e shish taouk - sanduíches - , kafta, kibe, arroz libanês, e vários outros pratos.  Mas tem uns que nem a cara me agrada. Eu também não gosto da maioria dos doces árabes, só gosto de dois: Atayif e Halawet el Jebne.
Os pratos da culinária do mediterrâneo são bem diferentes dos pratos brasileiros. Os brasileiros sofreram influências indígenas, africanas, e europeias - por conta dos imigrantes - e nossos temperos e especiarias também são diferentes, visto que o Brasil é um país tropical, bem diferente dos países do mediterrâneo, cujo clima é mais seco, com chuvas e nevascas no inverno. 
A culinária libanesa tem influências de países mediterrâneos, países europeus e orientais, com muita carne de carneiro, verduras, legumes, sem esquecer que os libaneses não vivem sem frutas! Os temperos e especiarias também são bem singulares. Sugiro a leitura de um artigo que explica resumidamente como é a culinária libanesa, e que pode ser acessado aqui.

O que você costuma fazer nos momentos de folga? Quais os programas e lazeres existem para se fazer na cidade?
Eu saio, me encontro com amigas brasileiras, vamos a restaurantes ou fazemos almoços, cafés da manhã em grupos, nas casas umas das outras ou em cafeterias, As vezes fico em casa, vejo filme, fico na internet, no verão vou à praia, piscina, nada de fenomenal. Existem muitos programas de lazer, para todas as idades, gostos e bolsos...rsrsrsrs. Eu já não estou mais na fase de "festar", ou de ir para as "baladas", tenho filhas (13 e 9 anos), então procuro buscar programações que possam incluir elas também, assim, minhas amigas em situação semelhante também podem ir e criamos os dois ambientes em um só lugar.

Você encontrou algum problema para obtenção de documentos e visto?
Não. Sou casada no civil e religioso no Brasil e embora não exista casamento civil no Líbano, somente religioso, as regras para o meu caso seguem a legislação brasileira. Meus 2 casamentos são registrados nos órgãos competentes daqui também e são totalmente válidos, porque sou brasileira e meu marido libanês. 
Tenho cidadania libanesa, que garante a minha permanência no país, visto que meu marido é libanês e minhas filhas são descendentes, embora sejam nascidas no Brasil também. Mas quando cheguei aqui, recebi no aeroporto visto de 1 mês. Renovei por mais 1 mês e depois dei entrada em um pedido de autorização para ficar no país por três anos (igual o RNE para os estrangeiros no Brasil), enquanto corria o meu processo de pedido de permanência e cidadania. Mas sempre fui muito bem atendida e recebida nos órgãos competentes daqui, nunca tive problemas de nenhuma espécie.

O que você menos gosta na cidade, ou no país?
Vixe...Pergunta difícil! Existe uma série de coisas que eu não gosto aqui. 
Eu não gosto da falta de leis, falta de regras, de organização, de planejamento urbano, social, econômico e ambiental. Não gosto da mentalidade atrasada de grande parte da sociedade libanesa, odeio o sectarismo e fanatismo religioso (islâmico e cristão), odeio os conflitos internos e absurdos, existentes por causa do sectarismo religioso, me enervo com o trânsito caótico e a forma incivilizada com que os libaneses dirigem, sem qualquer respeito a qualquer lei ou a mínima regra, de bom senso e educação, no trânsito. 
Não gosto da falta de conscientização ecológica e ambiental que existe aqui, onde as pessoas emporcalham as ruas, rios, matas e até o lindo mar mediterrâneo com seus lixos, sem se importar com o mal que eles causam a si mesmos e a natureza do país. Não gosto da forma cruel e desumana com que os empregados estrangeiros (domésticas e empregados braçais) são tratados, não suporto o preconceito, racismo, discriminação, a xenofobia, homofobia e dezenas de outras "fobias" que existe na mentalidade da sociedade libanesa. 
Não aceito a ideia de viver de aparências para preservar a moral e os bons costumes (com base na preocupação: "o que os outros vão pensar ou falar"), como os libaneses vivem. Não gosto da constante vigilância sobre a vida alheia e nas fofocas veladas, embaladas com rodízios de café, bolinhos e frutinhas. Não gosto do hábito das mulheres daqui de se produzirem as 7 da manhã como se estivessem indo a uma entrevista na TV (com maquiagem carregada, salto altíssimo, joias,e 1 lata de spray no cabelo), apenas para comprar pão na padaria.
Não suporto a inércia das mulheres libanesas, perante a inexistência de direitos e leis de proteção à classe feminina no país, e o conformismo fútil com que elas aceitam o machismo e chauvinismo exercido pela classe masculina libanesa, há séculos, se sustentando em argumentos ridículos, que não são benefícios concedidos à elas, mas sim de direito delas - como estudar, trabalhar fora, sair, beber, fumar, dançar, usar roupas sensuais, biquínis e dirigir - coisas que em outros países árabes ainda são considerados tabus ou proibidos, dependendo do país. 
Detesto também o confessionalismo imposto à sociedade e a recusa ao exercício dos direitos civis à que a sociedade tem por direito, porque uma minoria de líderes religiosos não abrem mão de controlar a vida da população e obviamente enriquecer-se as custas dela também.
Enfim, essas são algumas das coisas que eu não gosto. Tem muito mais coisas, mas não listarei tudo, porque vou ficar escrevendo até o natal...rsrsrs. Eu costumo brincar que eu tenho uma relação de amor e ódio, tanto com o Líbano, quanto com o Brasil, porque embora sejam países tão distintos, eles ainda assim, possuem muitas coisas em comum.

Qual a relação dos nativos com brasileiros? Você possui amigos libaneses?
Muito boa. Os libaneses adoram o Brasil, a cultura brasileira e o povo brasileiro, não é à toa que existe no Brasil mais de 8 milhões de libaneses e descendentes, muito mais do que no próprio Líbano. Se esse povo todo no Brasil um dia decidir vir morar no Líbano, não terá terra pra todo mundo, porque é um país pequeno, menor que a cidade de São Paulo. 
Os dois povos são como irmãos, da mesma forma que os brasileiros abraçaram os libaneses e sua cultura, os libaneses aqui também, acolhem muito bem os brasileiros. Essa relação de amor e fraternidade entre as duas nações remonta o tempo do Brasil Império, quando D. Pedro II veio ao Líbano, se apaixonou pelo país e convidou o povo libanês a ir para o Brasil, onde eles seriam recebidos de braços abertos - o que de fato aconteceu, e acontece até os dias atuais. Sugiro a leitura resumida sobre esse episódio aqui.
Não tenho muitas amizades libanesas, acho que todo brasileiro no exterior vive numa busca constante por outros brasileiros, como forma de se sentir mais perto do Brasil, sei lá. Eu tenho muito mais amigas brasileiras aqui, mas algumas libanesas também.

O que é falado sobre o Brasil por aí?
Tudo! Fala-se da beleza das brasileiras, da alegria do nosso povo, da nossa sinceridade e simplicidade de viver a vida, do futebol, do carnaval, do samba, da Amazônia, da capoeira, das comidas, da caipirinha, da violência, dos assaltos, sequestros, da corrupção, dos índios, da anaconda... rsrsrsrs. Os libaneses adoram o Brasil e se interessam muito pelo nosso país, pela nossa cultura, e muitos sonham em um dia poder visitar o Brasil. 
Até hoje, sempre que falo para alguém que mal conheço que eu sou brasileira, as pessoas sempre soltam: "Brasil? Wow... adoro Brasil. Um dia eu quero visitar o Brasil", e me enchem de perguntas. Algumas perguntas até inusitadas e estranhas como: "Por que você é tão branca se no Brasil só tem negros?", "Como você pode ser brasileira e ter o cabelo liso?", "Você morava perto da Amazônia? Você já deve ter visto os índios e a anaconda, né?", "Você sabe sambar?", "Eu falo um pouco de espanhol...".
Existem muitas pessoas que se informam sobre a nossa cultura e sabem muitas coisas, ou pelo menos, algumas coisas. Seja por possuírem parentes em algum lugar no Brasil ou por curiosidade mesmo, mas tem pessoas que tem uma visão bem engraçada (e equivocada, por falta de informação) do Brasil. Às vezes, tenho a impressão que muitas pessoas pensam que no Brasil vivemos todos na Amazônia, entre os índios, pelados, sambando o ano inteiro, com um radinho de pilha, doado por algum turista estrangeiro...rsrsrs.

Gostam da música brasileira? Como é a repercussão das nossas músicas aí? 
Sim. Gostam bastante, e as rádios tocam diversos sucessos brasileiros aqui. O povo lembra da lambada até hoje, mas nos últimos anos, Michel Teló e Gustavo Lima embalaram as baladas libanesas por meses. Eles querem aprender a cantar, querem entender o que está sendo falado na música e chove pedidos de traduções. Também querem aprender as dancinhas que eles veem nos vídeos, querem aprender a sambar. 
Já vi também algumas lojas tocando ininterruptamente (como se fosse um CD) sucessos da MPB, Bossa Nova, sem falar que os metaleiros libaneses (sim, aqui também tem metaleiros) gostam de muitas bandas de metal brasileiro, como Sepultura, Korzus, Sarcófago, Krisium, Matanza, e por aí vai.

Quais são os principais ídolos atualmente no país?
Bom, a cada Copa do Mundo eles memorizam o nome do astro da seleção brasileira da temporada e o idolatram. Aliás, nessa época, o país fica todo enfeitado de verde e amarelo (em contraste com as bandeiras da Alemanha, e uma minoria de bandeiras da Argentina, Itália e até Espanha). É possível ver milhares de bandeiras do Brasil por todo o país, nos carros, varandas dos prédios, portas de lojas, nas ruas... Quando eu cheguei aqui, ainda falavam muito do Ronaldo (o fenômeno), depois falavam do Kaká (aqui eles falam Káka), e como sempre tem jogadores brasileiros jogando no Barcelona ou no Real Madrid (também times idolatrados aqui, pela grande maioria dos libaneses), eles também memorizam os nomes dos jogadores brasileiros, portanto, além de idolatrarem o Messi e o Cristiano Ronaldo, também mencionaram o Ronaldinho Gaúcho, o Robinho, mas atualmente falam muito no Neymar.
Na política, os que estão atualizados com o Brasil, por terem familiares no Brasil, ou por buscarem informações mesmo, fala-se dos que estão em destaque, e dos que deram o ar de sua graça por aqui, como o Michel Temer, que é descendente direto de libaneses que saíram de uma cidadezinha do norte do Libano (Btaboura - Koura) e que esteve aqui, visitando a aldeia natal de seus pais, em 2011. 
Ano passado, Jorge Haje Sobrinho, Ministro-Chefe da Controladoria Geral da União, também esteve no Líbano e houve bastante destaque nos jornais locais, por ele ter visitado a cidade de seus familiares (Qaitouleh - Jezzine). Enfim, os libaneses sabem que existem diversos políticos e pessoas ilustres no Brasil (e no mundo) em diversos setores, e que são de origem libanesa, e eles se orgulham muito disso.

O que você costuma assistir na TV?
Eu não costumo assistir TV, não curto, desde quando eu morava no Brasil eu já não assistia TV - principalmente TV aberta, com novelas e etc. - mas quando decido assistir, são só filmes, seriados, documentários do History Channel, National Geographic, coisas assim. De vez em quando aparecem algumas novelas brasileiras aqui também, como “O Clone", "Terra Nostra", "Caminho das Índias", mas tudo dublado em árabe (cruzes!). Muitas brasileiras instalam canais brasileiros em suas TVs a cabo, para ver novelas, mas eu nunca tive interesse por esses canais.  

Há alguma mania/febre no país atualmente?
No momento eu não sei de nenhuma, mas no inicio do ano, os libaneses aderiram fervorosamente ao Harlem Shake....rssrsrs. Relacionado à moda é difícil dizer, pois estamos bem no início do outono ainda, e eu sinceramente não vi nada de novo. No Brasil, tendemos a nos basear mais na moda e modismos em geral dos americanos, enquanto que os libaneses tendem a se basear mais na moda e modismosdos europeus. 
O libanês gosta de adotar sempre as tendências globais de manias e modismos, sejam elas relacionadas à moda, estilo, eletrônicos, carros, tudo. Mas não abrem mão de suas raízes e tradições, o que significa que o velho e o novo, o antigo e o moderno, andam de mãos dadas no Líbano, em tudo e sempre.

Quais são os 3 esportes mais populares no país?
Esqui, futebol e basquete. Aqui o basquete é a preferência nacional, como o futebol no Brasil. Acho que o fanatismo do libanês por basquete não chega aos pés do fanatismo de brasileiro por futebol, então eu classifico como moderado.

Você gosta da música do país? Tem algum cantor/banda que recomenda?
Não. Quando eu ainda vivia no Brasil, eu até gostava, mas depois que vim pra cá, acabei enjoando de ouvir tanto "habibi" pra lá e pra cá, 24hs por dia. A maioria das músicas libanesas falam de amor, de sofrimento, de tristeza, de separação, muito sentimento e poesia misturado, e eu não tenho paciência...rsrsrs. 
Não vejo canais de TV do Líbano e não escuto músicas árabes também. Em casa, só comida brasileira, músicas em inglês e canais de TV em inglês. Só sinto que estou no Líbano da porta da minha casa pra fora...rsrsrsrs.
Em relação aos artistas daqui, vou falar a preferência nacional e a minha preferência. Como eu disse que não gosto de música libanesa, é injusto eu apenas listar as minhas indicações, sem mencionar quem são os aclamados no país, pelos que gostam de música árabe.

Preferência Nacional: Cantores: Wadih Al Safi, Ziad Rahbani, George Wassouf,Assi El Hellani, Ragheb Alama, Joseph Attieh. Cantoras: Fairouz, Sabah, Magida El Roumi, Elissa, Nancy Ajram, Julia Boutros, Carole Samaha, Myriam Fares, Yara.

Minha preferência: Cantores: Wadih Al Safi, Wael Kfoury, Fares Karam. Cantoras: Nawja Karam e Haifa Wehbe. Bandas: Blaakyium (Banda de heavy - thrash metal de Beirute).

Conhece alguma história (ou lenda) da cultura que pode contar?
Eu sei de duas pequenas lendas existentes em Sídon (ou Saida), uma das cidades mais antigas do mundo (2.500 A.C.), fundada pelo neto de Noé, o jovem Canaã, sendo assim, a primeira cidade dos cananeus. 
Sídon é mencionada na Bíblia (Gênesis: 10, 15), foi visitada por Jesus, quando ele curou a filha enferma de uma cananeia (Mateus: 15, 21; e Marcos: 7, 24), pela virgem Maria (Reis: 17, 9ss), pelo apóstolo Paulo (Atos: 27,3), e outros, além de ter sido também, a terceira cidade mais importante para os fenícios e ter abrigado os templos de Astarte e Echmun. 
Lenda da púrpura (múrex) - A púrpura foi descoberta pelo deus e rei da cidade, Melcarte, e sua noiva Tyrus, que certo dia passeando pela praia com seu cão, observou que ele havia mordido uma concha do mar e ficado com a boca vermelha. Ela teria então pedido ao seu noivo um vestido da mesma cor, e Melcarte ordenou que imediatamente fosse colhida uma certa quantidade de conchas do mar, de onde foi extraída a tintura vermelha, para tingir o tecido que seria usado para fazer o vestido de Tyrus. 
Lenda de Echmun -  Echmun, o deus fenício, nascido em Beirute, era um jovem caçador, e a grande paixão da deusa da fertilidade, Astarte. Visando se livrar das perseguições dela, Echmun teria se automutilado até a morte. Mas Astarte o ressuscitou para viver ao lado dele eternamente e fez dele um deus, tido pelos romanos como deus da Medicina (Asclépio). Adônis e Echmun parecem ser um só, porém, com aparências distintas, e assim, Echmun passou a ser para os fenícios, o símbolo da fertilidade, da morte e do renascimento, e representando dessa forma as estações do ano.
Essas são algumas das lendas que eu aprendi, lendo o "Líbano - Guia turístico, histórico, arqueológico, religioso e cultural" do escritor Roberto Khatlab. 

Existe algum programa do governo que lhe chame a atenção?
Não existe nenhum, que eu saiba, mas eu gosto do trabalho da ONG libanesa "Save The Grace", projeto humanitário que retira excedente de alimentos de estabelecimentos e residências e os distribui aos necessitados. 

Você pensa em voltar para o Brasil?
Não. Apesar de todos os problemas que o país vem enfrentando, desde que estourou a guerra no país vizinho, dos recentes atentados ocorridos no país, com carros bomba, e do perigo de um dia ter outra guerra com Israel, eu ainda acho o Líbano mais seguro que o Brasil. 

Qual o seu sentimento pelo Líbano?
Eu gosto de viver no Líbano, numa outra questão eu já expliquei como me sinto; existem milhares de coisas que me irritam profundamente, que me fazem reclamar constantemente, mas ainda sim, eu gosto de viver aqui, porque as coisas que eu gosto pesam mais do que as que eu não gosto. Como eu mesma falei numa outra questão, eu tenho uma relação de amor e ódio com o Líbano e com o Brasil... rsrsrs.

Quais características gostaria que suas filhas tivessem do jeito brasileiro e da maneira libanesa de ser?
Eu crio minhas filhas dentro da minha concepção, que é educar elas, parte na maneira brasileira e parte na maneira libanesa, afinal elas possuem os dois sangues e herdaram as duas culturas, então devem saber tudo dos dois países, as coisas boas e as coisas ruins. Eu mostro pra elas as vantagens de se ter uma mentalidade aberta, livre de preconceitos e pré-julgamentos absurdos, arcaicos, retrógrados, confessionais e sectários, e a liberdade que podemos ter dentro de nós mesmos e nas nossas vidas quando somos abertos a todos os povos, todas as culturas, todas as religiões, sem distinções de cor, raça, credo, e status social. 
Mas também mostro como é bonito e bom os valores familiares de amor, união, gentileza, acolhimento, solidariedade, respeito, carinho, o espírito de "família" que tem aqui no Líbano. Sempre mostro as coisas positivas e negativas dos dois países pra elas e sempre sugiro que adotem todas as coisas boas e positivas das duas nações e culturas, e não se deixem nunca serem contaminadas por nada que seja ruim, negativo, "avançado ou retrógrado" demais.  Provo com exemplos a importância do equilíbrio, do bom senso e de como muito mais pessoas podem se beneficiar e serem mais felizes com o equilíbrio perfeito, porque todos os extremismos levam à consequências ruins, e às vezes irreversíveis.
Assim eu gosto de educar minhas filhas e tem dado certo, acreditem!

Que conselhos você daria a quem pretende visitar ou até mesmo se mudar para o país?
Prepare-se para conhecer um país muito bonito, hospitaleiro, com um povo muito acolhedor e gentil, onde você poderá esquiar no inverno e fazer bonecos de neve, assar batatas na famosa "súbia", enquanto fuma arguile e conversa com os amigos. Um país onde você poderá desfrutar de resorts lindos no verão, passear de barco, de jet ski e até mergulhar no mediterrâneo no verão, enquanto bebe uma das cervejas mais gostosas que eu já experimentei (Almaza) e festar muito a beira das piscinas. 
Prepare-se para festar, se divertir, conhecer lugares lindos, históricos, conhecer uma cultura milenar e rica, uma gastronomia deliciosa, dançar nos night clubs mais agitados de Beirute, a céu aberto na cobertura de um prédio, ver pessoas bonitas e fazer novas amizades (para os jovens solteiros essa parte). 
Mas prepare-se para se deparar com situações cotidianas completamente diferentes do país em que você mora, seja ele qual for, como falta de luz, falta de água, lidar com a "água dura" do país, que detona o cabelo e a nossa cútis tropical de brasileira, surtar no trânsito caótico e desorganizado de um país praticamente sem leis. E ainda, se preparar para ouvir de qualquer libanês, quando você reclamar indignado, "Welcome to Lebanon".

5 Comentários

  1. Acabei de ler a tua entrevista Clauida Rahme e gostei. Voce tem toda razão, talvez esse sentimento ódio e amor, a gente sente quando mora no estrangeiro porque as comparações são inevitáveis. Mas é incrível como em geral, acabamos optando mesmo assim, pelo país que a gente adotou ou fomos adotados. Até porque isso é uma questão de opção. Não podemos viver infelizes o resto da vida em um país onde a gente não gosta. Muito legal!

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  2. Eu gostaria muito do contato dessa menina. Alguém me ajuda? rsrsrsrs

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  3. Clauuuuuuuu....... Show a sua entrevista, e maravilhosa sua percepção de detalhes, do dia a dia, nossa, fiquei realmente hiper admirado com toda atenção que você olha as coisas, enfim, a riqueza incrível de detalhes é fantástica. Parabéns! saudades de você.... (SAMIR NASSAR)

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  4. Parabéns pela entrevista incrível. Eu acredito que seu marido tenha uma mente muito diferentes dos outros homens libaneses.

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  5. Gostei muito do que li Claudia. Hoje vivo um momento de grande dúvida pois recebi uma carta manuscrita do consul do Líbano no Brasil me oferecendo a cidadania Libanesa por parte sanguínea de meus avós paternos, tanto meu avô quanto minha avó. O Brasil voce sabe como esta, me preocupo com o futuro de minha filha que esta com 18 anos. Mas também não consigo avaliar ainda o que é ter esta cidadania, até por do muito do que você escreveu, e até mesmo, com relação a ter esta cidadania e portas em outros países. Você conseguiria me passar mais detalhes com relação a convivência com outros países Europeus, até mesmo a relação com EUA.
    Desde ja agradeço sua atenção.

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