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"Os 3 meses de turista não foram suficientes, amei o país e resolvi ficar."




Gabriel está prestes a completar 2 anos em Portugal. Apesar do amor que sente pelo Brasil, o gaúcho não pensa mais em deixar a segurança que encontrou em uma pequena cidade do país europeu.





Gabriel Baldez
24 anos
Castelo Branco, Portugal
Cidade Natal: Porto Alegre, Rio Grande do Sul (Mas venho de Fortaleza, onde morei 9 anos e também 9 em Recife)
Solteiro


Você mora sozinho? Com quem mora? 
Moro com uma tia.

Há quanto tempo está no país?
Faço 2 anos no próximo mês.

Com o que você já trabalhou e qual o seu trabalho atual?
Trabalhei até mês passado como caixa e empregado de balcão numa loja de conveniências de um posto de combustíveis.

O que te levou a sair do Brasil?
Sempre viajei bastante e tinha muita vontade de conhecer outros países. Tinha uma tia que morava há 2 anos em Portugal e quando soube que eu havia saído do meu emprego fez o convite. Os 3 meses do visto de turista não foram suficientes, amei o país e resolvi ficar.

Porque escolheu Portugal e Castelo Branco?
Portugal sempre me instigou pela relação histórica com o Brasil, mas aceitei vir justamente por já ter alguém aqui, o que tornaria tudo mais fácil. Castelo Branco foi a cidade que minha tia já morava, por isso vim pra cá. É bem diferente de Fortaleza. É uma cidade menor, mas bem diferente das cidades de interior do Brasil, são aproximadamente 30 mil habitantes. Foi considerada a segunda melhor cidade pra se viver em Portugal, atrás de Viseu apenas. É uma cidade segura, nunca me imaginaria andando, 4 horas da manhã, voltando da balada, sozinho por ruas desertas no Brasil. 

Qual o custo de vida? É mais barato ou mais caro em relação à sua cidade natal?
Em muitos aspectos é bem mais barato viver aqui. Uma pessoa que ganha em média um ordenado mínimo consegue viver melhor do que uma pessoa que ganha um ordenado mínimo no Brasil. Se eu ganhasse o mínimo no Brasil eu não teria o "padrão" de vida que se pode ter aqui. Aluguéis são geralmente baratos, e aqui há um tipo de moradia onde as pessoas dividem as casas, você aluga um quarto da casa e pode usufruir das áreas comuns; esse tipo de moradia é muito comum entre estudantes. No supermercado a conta sai bem mais barata do que no Brasil; aqui há uma quantidade imensa de marcas "brancas", que são produtos praticamente idênticos aos conhecidos, mas com preços bem mais baixos, e quase todo grande supermercado tem a sua marca própria e os preços ficam às vezes até menos da metade do original. Água, energia e gás são mais baratos, também; o que é mais ou menos o mesmo preço são os combustíveis. Cigarros, pra quem fuma custam o dobro do preço no Brasil. E pra quem gosta de uma baladinha, aqui é de longe mais barato. Dependendo de onde for, consigo sair a noite com 10 euros tranquilo e aproveitar bastante; você consegue achar cerveja até por menos de 1 euro nos bares. Enfim, em muitos aspectos aqui é mais barato viver do que no Brasil.

Qual a relação de infraestrutura da cidade você faz com sua cidade natal?
Como disse se for comparar com cidades menores no Brasil em geral, Castelo Branco está muito bem. Muito difícil ver ruas esburacadas, lombadas quase não existem (os motoristas respeitam a faixa de pedestres e os limites de velocidade). Os hospitais são pagos até pra uma simples consulta, não existe um "SUS" e funcionam bem comparados ao que via em Fortaleza. Transportes em Castelo Branco são meio limitados, os autocarros não funcionam nos fins de semana (sábado até meio dia) e durante a semana até as 20h apenas. Mas isso por que é uma cidade pequena. Em Lisboa o sistema de transporte urbano funciona melhor que muita cidade grande no Brasil. Em questão de hospedagem, há muita opção, um ponto positivo é que o país é cheio de hostels, considerados os melhores do mundo e no Algarve, região turística litorânea, há resorts gigantescos. Outro ponto legal é a limpeza, não há lixo nas ruas praticamente. Aqui uma coisa interessante é que não se coloca o lixo na porta de casa, como se faz muito no Brasil, pro caminhão passar e pegar. Toda rua tem um local, às vezes mais, com lixeiras seletivas e contentores e mesmo quem mora mais longe um pouco, desce do prédio e vai até lá colocar seu lixo separado. Há muitos parques também e facilidades pra ciclistas e deficientes, por exemplo.

O que te chamou atenção na cultura do país?
Acho que tudo é bastante diferente, mas a música é interessante. Fado é muito bonito e não é muito explorado, por exemplo. Aqui gostam muito de festivais, há festivais de música durante o ano inteiro. As pessoas também gostam de festas nas aldeiazinhas do interior, sempre são bem animadas. Acho que aqui há muito mais incentivo pra cultura, há muitos museus, monumentos, enfim. Tudo muito bem estruturado.

Tem alguma história engraçada/inusitada que aconteceu com você no país?
Não que me lembre, mas as coisas engraçadas acontecem mais por causa das diferenças no idioma. 

O que do Brasil te faz mais falta? Em que momento você sente/sentiu mais saudade?
Acho que o calor humano, a família, as amizades. Eles são mais na deles. Não se misturam muito, há em algumas pessoas ainda certo preconceito com brasileiros, talvez por causa da crise, não sei. Mas quando alguém gosta de você aqui, eles se entregam, é bem legal. Algumas comidas também fazem muita falta, coisas simples que nem damos tanto valor quando estamos no Brasil aqui parece que éramos viciados e sentimos muita falta, como sou do nordeste, sinto falta de comer cuscuz, carne de sol, queijo coalho, churrasquinho, cocada, essas coisas. Ah, água de coco, aqui só em caixinha praticamente e tem gosto de soro.

Do que você não sente falta no Brasil?
Da insegurança, violência, principalmente. Gosto de uma coisa aqui simples também que é poder viver a sua vida sem as pessoas te julgarem por tudo. Você aqui se veste da maneira que quer e não é observado dos pés a cabeça como acontece no Brasil, nós vivemos em geral, muito pela imagem, a maioria se preocupa em ser aceitável, acho que isso não acontece muito aqui. Seja você e pronto.

Você gosta da comida local? É muito diferente da brasileira?
É bem diferente sim e eu gosto. Aqui o nosso arroz de todo dia geralmente é substituído por batata. Comem batata com tudo. E pão também. Na maioria das vezes, quando se vai a um restaurante, temos uma sopa de entrada e na mesa sempre colocam azeitonas e um pão meio duro. Não sei, mas não me acostumei com o pão e geralmente ignoro. Eles aqui têm uma cultura muito grande de enchidos também, chouriços, morcelas, farinheiras, alheiras. Tem muitas variedades. Queijo também se come bastante. Os da Serra da Estrela são reconhecidos mundialmente e os dos Açores também são famosos. Apesar de ser um país mais ou menos do mesmo tamanho de Santa Catarina, há muita diversidade de pratos típicos. Mas a cultura aqui de gastronomia é muito forte. Muitos vinhos, azeite, peixes, carnes de porco (aqui a qualidade da carne de porco é bem melhor que no Brasil, porcos são tratados melhor que muita gente), doces, enfim, é muita variedade. 

O que você costuma fazer nos momentos de folga? Quais os programas e lazeres existem para se fazer na cidade?
Castelo Branco é uma cidade mais tranquila, tem 3 discotecas e muitos, mas muitos bares e cafés. Toda esquina praticamente tem um café e não estou exagerando. É da cultura deles. Gosto muito de sair a noite, pra conversar, tomar café (hábito que peguei aqui), ver amigos e outras coisas. Aqui é mais organizado, durante a semana, bares são obrigados a fechar às 2 da manhã e nos fins de semana às 4. A polícia fica na porta pra ver se fecham mesmo. Discotecas, sempre até de manhã. Aqui, como é uma cidade meio universitária, sempre têm muitas festas deles. Queima das fitas, Latada, enterro do calouro, semanas acadêmicas, tudo é motivo pra bebedeira. E são bem divertidas.

Como é o idioma no país? Realmente há muitas diferenças?
Há muitas diferenças entre o português brasileiro e o português. Aqui inclusive, dizem que nós falamos "brasileiro". Muitas coisas mudam de nome ou algumas coisas que pra nós significa uma coisa, aqui significa algo totalmente diferente, isso causa até situações engraçadas. Mas eles nos entendem melhor do que nós os entendemos no começo, pois aqui a cultura brasileira tá muito presente, passam muitas novelas brasileiras e as músicas brasileiras estão em todo lado. 

Cite algumas palavras que tem outro significado ou recebem outro nome por aí, conforme disse.
Aqui tem muitas palavras que recebem nomes diferentes, nós aí conhecemos algumas coisas, mas ao chegar cá você fica mesmo confuso. Além de fila aqui algumas vezes chamarem "bicha" tem outras palavras interessantes. Ônibus é autocarro, trem é comboio, menino novo é chamado de puto, meninas novas pitas, galera é malta, legal é fixe, camisa é camisola mesmo sendo masculina, bonita é gira, xícara é chávena, 1 bilhão são chamados de mil milhões, grama é relva, grampeador é agrafador, diesel é gasóleo, desodorante é desodorizante, térreo é rés do chão, sanduíche é sandes, uma infinidade de diferenças. Ah, aqui não é errado dizer mais pequeno. Achava estranho, mas já me acostumo e às vezes até me confundo.

Qual a relação dos nativos com brasileiros? Você possui amigos portugueses?
Boa parte dos meus amigos aqui são portugueses. Mas há ainda muito preconceito. Há aquele estereótipo de que toda brasileira é garota de programa e todo brasileiro é vagabundo. Principalmente aqui na minha cidade, onde as pessoas tem a mentalidade um pouco menos aberta que nas grandes cidades. Mas quando gostam de você, gostam de verdade. 

O que é falado sobre o Brasil por aí?
Aqui falam de tudo. Desde coisas boas, como coisas terríveis. Muita gente quando sabe que sou brasileiro, ou conta que já foi ou que tinham vontade enorme de conhecer. Muita gente pergunta por que vim pra cá em tempos de crise enquanto "lá no Brasil é que se tá bem agora". Falam muito de praias, carnaval, das festas, das mulheres brasileiras, das festas, da música, das nossas comidas. Engraçado que sempre alguém quando quer zoar com você aqui tenta imitar o sotaque brasileiro, e eles geralmente copiam isso de novelas brasileiras, acho engraçado. Mas há também pessoas que falam muito mal, não vou entrar muito nesse assunto, porque eu geralmente me estresso quando falam mal do meu país, mas já ouvi absurdos do tipo "se não fosse por Portugal vocês ainda seriam índios" e coisas piores. Mas no fundo, no fundo, acho que eles na verdade amam nosso país.

Você disse sobre a música brasileira. Gostam dela por aí? Como é a repercussão das nossas músicas? 
A cultura brasileira faz o trabalho de aproximação dela. É muita novela brasileira, músicas brasileiras nas festas também são as que mais animam. "Ai se eu te pego" e a maioria dos sertanejos tocam aqui até enjoar. Eles podem não demonstrar muito, mas amam brasileiros.

Quais são os principais ídolos atualmente no país?
Bom, por incrível que pareça não ligo muito a essas cosias. Mas, Cristiano Ronaldo é unanimidade por aqui. Bandas tem muitas, mas Xutos e Pontapés de rock faz muito sucesso, como também David Carreira, filho de outro cantor, Tony Carreira, uma espécie de Roberto Carlos português. Tem alguns de fado, como Marisa, Áurea, Carminho. Na política não há muitos ídolos, aqui há revolta com eles por causa da crise. E na TV há muitos programas estilo Mais Você, e alguns de humor. Muitos programas como Idolos, Factor X (X Factor daqui), Cante se Puder, um de dança com artistas, BIg Brother aqui é com celebridades e Casa dos Segredos reality de anônimos. 

O que você costuma assistir na TV?
Não assisto muito, mas quando assisto, geralmente são jornais e alguns programas de humor. 

Há alguma mania/febre no país atualmente?
Há muitas febres. Aqui, na música, por exemplo, música brasileira, kuduro e kizomba sempre tocam e animam muito as pessoas. Em relação a festas, há uma febre que acho que surgiu a pouco tempo que são as festas "menos zero". Bebe-se muito e barato. Na hora de pagar a conta, retira-se um zero do preço. Ou seja, colocam na sua ficha uma cerveja a 7 euros, mas na hora de pagar fica por 0,70 cêntimos. 

Você já foi em Lisboa? Existe grandes diferenças culturais de Castelo Branco para ela?
Sim, sempre que dá eu vou a Lisboa. As diferenças são gritantes. As noites de Lisboa, ou LX como abreviam aqui, são bem mais animadas, há festas para todos os tipos de público, as pessoas têm a mente mais aberta, são menos preconceituosas. A cidade tem muita coisa boa, vários museus, parques, praças, jardins... Acho muito difícil ficar entediado lá. O sistema de transporte é bem eficiente, melhor até que em muitas cidades brasileiras, tem metrô, ônibus, o trem que leva pra outras regiões, barcos para atravessar pra margem sul, elétricos, bondes... Há sempre muitas coisas na área da música, das artes, cinema, é uma cidade bem moderna ao mesmo tempo em que preserva a história através dos prédios conservados, das ruas que mantêm aquele aspecto de antigamente. Eu se pudesse, morava em Lisboa. É daquelas cidades que você de andar nela, atravessar aquelas ruas se sente bem.

Você conheceu/utilizou algum produto ou serviço que recomendaria a ser utilizado no Brasil?
Produtos a gente usa tantas coisas todos os dias que fica difícil lembrar algo específico. Mas em termos de serviço, acho que o sistema de transportes aqui é excelente. Enquanto no Brasil, especificamente em Fortaleza, se discute a implementação de metrô, integração entre meios de transportes e etc, aqui eles estão em níveis bem avançados. Lisboa, como já disse, é uma cidade que é tão bem organizada nesse aspecto, que fica difícil você se perder ou não ter como ir a algum sítio. Devido ao grande número de turistas e habitantes, claro que há ônibus lotado às vezes, mas o próximo vem tão rápido e é tão pontual que você não espera se não quiser. Além das facilidades pros pedestres e ciclistas.

A população se envolve muito com a política? Qual a opinião/relação geral e sua do atual governo, com toda crise enfrentada pelo país?
Sim, eles se envolvem bastante. Desde os mais novos até os mais velhos. As principais notícias nos jornais e na TV geralmente são relacionadas com política e com a economia do país. Acho que devido a crise e os problemas que ela trouxe, as pessoas cada vez mais se interessam por política. É um assunto recorrente sempre.

Você gosta da música do país? Tem algum cantor/banda que recomenda?
Gosto bastante. O fado é o estilo musical mais tradicional e foi declarado pela UNESCO como Patrimônio Imaterial da Humanidade e eu gosto bastante. Os artistas que gosto, não necessariamente todos fadistas, são Aurea, Carminho, Ana Moura, Deolinda, Monica Sintra.

Pensa em voltar para o Brasil?
Não. Muitos brasileiros estão voltando agora por causa da crise e do desemprego. Eu não penso nisso tão cedo. Gosto daqui, me sinto seguro, o custo de vida é mais barato, é mais organizado. A saudade geralmente é o que nos "puxa" pra querer voltar, mas graças a Deus temos telefone e internet. 

Qual o seu sentimento por Portugal?
Eu tenho um apreço grande por esse país. Por ter me acolhido e por ser o país que escolhi pra viver. Apesar dos pesares, é bom viver aqui sim. Mas não é fácil. E o Brasil também não é um mar de rosas. Amo meu país, mas gosto muito de Portugal. Às vezes cai a ficha de que estou em um país de "primeiro mundo" e os benefícios que isso me traz. 

Se tivesse um filho, quais características ensinaria/gostaria que ele tivesse do jeito brasileiro e da maneira portuguesa de ser?
Acho que a alegria, simpatia, simplicidade, humildade brasileiras. E portuguesa acho que queria que tivesse a organização e a praticidade.

Que conselhos você daria a quem pretende visitar ou até mesmo se mudar para o país?
Pra quem vem visitar, aproveite cada minuto. Vale muito a pena. Visitar Portugal é barato, é lindo, é encantador, inesquecível. É rico na música, na gastronomia, na cultura, nas paisagens, na preservação da história, enfim. Pra quem vem morar, coragem. Não é fácil, como disse, mas tem seus lados bons. E vai viver uma cultura que pelo idioma parece ser muito próxima da nossa, mas que tem muitas coisas a descobrir.

1 Comentários

  1. Hahaha, bacana a entrevista =)
    Eu morei 6 meses em Lisboa para cursar um semestre da faculdade por lá em 2010 e compartilho de várias opiniões do Gabriel...tive dias em que queria sair correndo da Universidade pelas besteiras que ouvia sobre meu país e outros em que amava me sentar para um café com pastéis de Belém...atualmente moro em Sydney, Australia e posso dizer que me sinto muuuuito melhor aqui, mesmo com as dificuldades iniciais de língua e diferença cultural...Um abraço, cheers mate =)

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