Wagner morou na capital da Inglaterra por mais de dois anos. Antes de seu retorno ao Brasil, o cuiabano realizou um mochilão pelo continente europeu, passando por seis países e acumulando muitas histórias.
Wagner Meireles Maiolino
30 anos
Cuiabá, Mato Grosso
Morou em: Londres, Inglaterra
Solteiro
Quanto tempo você morou fora e por quanto tempo viajou pela Europa?
Morei na Inglaterra entre agosto de 2007 à janeiro de 2010, depois entre 5 de janeiro a 12 de março fiz um mochilão pela Europa e depois retornei ao Brasil.
Com o que você trabalhava no Brasil antes de ir e o que você fez na Inglaterra?
No Brasil eu era funcionário público estadual e me formei em direito no ano em que fui morar na Inglaterra. Lá trabalhei como assistente de Barman, fiz limpeza em escritórios, distribui panfletos nas ruas, lavei pratos em restaurantes e fui garçom também. Meu último emprego foi em uma loja que vendia comidas naturais.
O que te levou a sair do Brasil?
Sempre tive o sonho de morar fora, conhecer outras culturas, aprender a falar inglês e tentar me virar sozinho sem ajuda da minha família.
Porque escolheu a Inglaterra e Londres?
Meu plano inicial era ir para os Estados Unidos, porém o visto era mais complicado e o país não estava em um bom momento. Conversando com uma amiga ela me falou sobre a Inglaterra, que era mais fácil o visto de estudante, a moeda local (libra) era forte e também um país mais rico culturalmente, com uma infinidade de coisas para fazer, lugares para conhecer de forma mais acessível.
Você conhecia o idioma quando se mudou?
Antes de ir fiz algumas aulas com a mãe de um amigo que é professora de inglês, para ter uma noção melhor além do que tinha aprendido nos tempos de escola. Ela também me ensinou algumas coisas bem importantes e interessantes sobre a história da Inglaterra, que foi ótimo saber. Porém chegando lá vi que o idioma era mais difícil do que eu imaginava e eu realmente não sabia quase nada.
Qual o custo de vida em Londres? É mais barato ou mais caro em relação à Cuiabá e ao Brasil?
O custo de vida é relativamente barato. Alimentação é bem em conta e roupas também são. O transporte não é tao barato porém é excelente. O que pesa um pouco é o aluguel, mas se você trabalha numa frequência média de 8 horas diárias, 5 vezes por semana, você consegue viver bem. Tudo é acessível. Em minha cidade natal é tudo muito carro e complicado. O transporte urbano é péssimo e a criminalidade é imensa. Em Londres existe qualidade de vida. Por exemplo: se você quer ir ao Cirque du Soleil mesmo sendo um faxineiro, você pode tranquilamente comprar seu ingresso e ver sem comprometer as contas do mês. O índice de criminalidade é bem baixo, a saúde pública é excelente e gratuita, e quase não existe preconceito com os imigrantes. As pessoas convivem com as diferenças e respeitam bem a individualidade de cada um. Tudo e extremamente organizado e funciona, então viver assim é muito bom. Essas facilidades, comodidades, segurança, igualdade social, respeito e educação são muito raras de encontrar no Brasil. Na Inglaterra é muito comum.
Inicialmente peguei um avião e fui para Paris, onde fiquei doze dias. De lá, eu e alguns amigos fomos de trem para Frankfurt, na Alemanha, por uma semana e depois Munique, mais uma semana. Após outro trem, chegamos em Viena, na Áustria, onde passamos uma semana também. Depois pegamos um voo para Atenas, na Grécia, onde ficamos três dias. Em Patra embarcamos em um navio até Veneza, na Itália, porém era sábado de carnaval e como não havíamos nos programados, não encontramos hotel, ficando assim apenas algumas horas na cidade até irmos para Milão, onde fiquei 4 dias e embarquei para Barcelona, mais 6 dias, voltando à Viena por mais 5 dias. Então fui de carro para Budapeste, onde passei um dia e após isso voltei para Londres. Fiquei por mais dois dias na cidade e então retornei ao Brasil.
O que te chamou atenção na cultura da Inglaterra? E em cada país que passou?
A forma tranquila dos ingleses. São muito educados, éticos e discretos. Falam baixo e pouco gesticulam, não são de ficar dando “tapinha nas costas”, porém são muito justos e honestos. Achei que fossem “frios”, mas não vi nada disso. Sempre fui muito bem tratado por eles. Na França já achei um povo mais chato, sem paciência, sem educação. Já na Alemanha, Áustria e Grécia tive a mesma boa impressão da Inglaterra: pessoas simpáticas e educadas. Na Itália já achei meio parecido com o Brasil, porque a maioria das pessoas fala alto gesticula e há certa bajulação artificial em troca de algo. De maneira geral diante de tudo o que vi e vivi em dois anos e dez meses na Europa, conclui que as pessoas estão mais preocupadas com suas vidas do que com a dos outros. Ninguém se importa se você esta com o tênis sujo ou a camiseta amassada, nem quer saber o seu carro ou sobrenome. As pessoas são mais reais e querem curtir a vida, são desapegadas de status e convenções sociais, não vivem de aparências. isso achei incrível. Inglaterra com certeza será um lugar que quero muito voltar não apenas para passear, mas morar novamente.
O que do Brasil te fez mais falta? Em que momento você sente/sentiu mais saudade?
Senti mais falta da minha família e dos meus amigos. Essa era minha única saudade, das pessoas, e era algo que sentia sempre, todos os dias. Com o tempo acostumamos a lidar com isso, mas não tinha um só dia que eu não me lembrava da minha família, tanto nos dias bons como nos ruins.
Dos países em que passou no mochilão, em qual se sentiu mais bem acolhido, bem tratado pelos nativos?Gostei muito da Áustria. Viena além de ser uma cidade linda e bem organizada, tem pessoas extremamente bem educadas. Gostei tanto que fui para lá duas vezes e fiquei uma semana cada vez. De forma geral não tenho absolutamente nada de ruim para falar. A obturação de um dente caiu faltando quatro dias para eu voltar para o Brasil. Fiquei preocupado porque dentista na Europa geralmente é muito caro, mas não tive outro jeito e fui. O dentista fui muito simpático comigo conversando o tempo todo falando sobre coisas do Brasil, fez o curativo e não me cobrou nada. Uma simpatia não?
Qual o local com a melhor comida que provou?
A Itália. Sempre gostei muito de macarrão, então me fartei. Comi muito. Alguns que eu nem conhecia. E as sobremesas também são deliciosas.
Geralmente durmo pouco e quando viajo isso fica pior. Quando estava na Alemanha, em Frankfurt, pegamos um trem para Munique. Como estava no começo do mochilão e ainda estava me adequando a esse ritmo de viajar para vários lugares diferentes de forma contínua, acabava dormindo nos aviões e trens. O dia de viajar era sempre uma correria para arrumar mala se preocupar com horário de saída, fazer check-in nos hotéis, essas coisas comuns me deixavam tenso e a gente vivia se atrasando. Nessa viagem especifica eu dormi quase todo o tempo. Assim que descemos do trem um policial alemão me parou e pediu meu passaporte. Ficou uns cinco minutos olhando sem dizer nada e daí perguntou se eu fumava. Não entendi nada. Já respondi negativamente e questionei o porquê da pergunta, uma vez que eu realmente não fumava e ninguém perto de mim fumando naquele dia, portanto eu não tinha cheiro de cigarro. Ele ficou quieto e fez a mesma pergunta novamente. Eu respondi da mesma forma. Ele chamou outro policial que me fez a mesma pergunta. Já comecei a me irritar e falei que já era a terceira vez que estava respondendo a mesma coisa. O segundo guarda perguntou se eu gostava de maconha. Já irritado falei que nunca tinha fumado maconha na vida. Disse que eu estava com a cara estranha. Logo entendi pelo fato de ter dormido durante a viagem e ainda estar com aparência de cansaço, ele concluiu que eu estava drogado. Comecei a rir e disse que estava cansado, pois já viajava por vinte dias passando por vários lugares. Ele então devolveu meu passaporte e disse que eu tinha um nome bonito como do compositor alemão, pedi que eu descansasse e aproveitasse minha estadia na cidade.
Qual o seu sentimento pela Inglaterra?
Tenho muito respeito, carinho e admiração pela Inglaterra. Foi um lugar que me acolheu muito bem, aprendi muito. Nasci novamente, pois quando fui nem inglês eu sabia. Comecei do “zero” em todos os sentidos. Foi uma experiência incrível e inesquecível. Mesmo sendo um simples estudante estrangeiro tive um problema de saúde e fui extremamente bem tratado pelos médicos que logo diagnosticaram e me operaram com todo aparato, organização, modernidade e cuidado, e tudo isso sem pagar nada. A melhor sensação é viver em um lugar onde todos são realmente iguais. Um lugar justo e sem "classes sociais".
Se tivesse um filho, quais características gostaria que ele tivesse do jeito brasileiro e da maneira inglesa de ser?
Do jeito brasileiro quero que ele tenha a garra, a determinação, a força do brasileiro que caí, mas sempre levanta e não desiste nunca. A maneira inglesa de ser ético, honesto, o respeito que eles tem pelo próximo, a forma civilizada e educada de agir.
Que conselhos você daria a quem pretende visitar ou até mesmo se mudar para o país?
Aprenda a falar inglês antes, pois eliminará muitos problemas. Vá desprovido de preconceitos e hipocrisias. Esteja aberto a cultura, se permita conhecer, abrir a mente para um novo mundo muito mais evoluído. Esqueça as convenções sociais (aparências) e seja você mesmo.
E para quem pretende fazer um mochilão pela Europa?
Se programe. Calcule o máximo que puder de tudo. Quanto mais organizado for melhor será a sua viagem. Vai gastar menos, aproveitar melhor o seu tempo e conhecer muito mais lugares fazendo seu roteiro completo com bastante antecedência.


1 Comentários
Nossa que bacana, eu também fui com essa mentalidade a respeito dos ingleses, de serem frios e tudo o mais e me surpreendi da mesma forma. Admiro bastante a educação que els tem la e o serviço de saúde! http://brazenglishcouple.blogspot.com.br
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