Foi tudo de última hora. Marina Santana decidiu viver uma experiência que sempre sonhou. Deixou sua vida no Brasil, vendeu suas coisas e embarcou rumo à Rússia. Uma experiência e tanto, que ela vive há 8 meses.
27 anos
Moscou, Rússia
Cidade Natal: Belo Horizonte, MG
Solteira
Moro em moradia estudantil, com duas meninas Africanas, da Namíbia, e no meu apartamento vivo com mais meninas, russas e africanas também, somos 10 meninas no apartamento.
Há quanto tempo está no país?
8 meses.
Com o que você trabalhava no Brasil e qual o seu trabalho atual?
Eu trabalhava como advogada no Brasil, sou formada há 3 anos. Estou trabalhando há 1 mês e meio aqui, em uma empresa russa, ajudando com traduções, e abrindo mercado para eles no Brasil, para venderem sensores de combustível.
O que te levou a sair do Brasil?
Eu sempre quis morar fora do Brasil, mas nunca tive coragem. Na verdade sempre namorei, durante toda a minha vida. Dos 16 anos aos 26 anos tive dois namorados. Quando decidi vir morar aqui, tinha 8 meses que tinha feito cirurgia de redução de estômago, e tinha mais ou menos 6 meses que tinha terminado meu último relacionamento, pois eu estava noiva, já tinha feito enxoval, comprado coisas para casa, meu pai já tinha até pagado a festa de casamento, que no fim virou a minha festa de despedida, estava um pouco instável nesse período, risos. Eu queria experimentar como seria viver em outro lugar do mundo. Pensei, se não fizer isso agora, então farei quando? Vendi meu carro, paguei os custos da viajem, meus pais me ajudaram com o que puderam, e meu pai e minha mãe ainda me ajudam financeiramente aqui.
Porque escolheu a Rússia e Moscou?
Muito boa essa pergunta, porque é uma boa história. Quando decidi que seria Moscou foi engraçado, o motivo pelo qual vim parar aqui, é uma historia inusitada, diferente, no mínimo intrigante e ao mesmo tempo um momento de insanidade, aliás, a minha vida sempre foi assim, todas as minhas decisões foram tomadas radicalmente e bruscamente, sem muito tempo para pensar nas consequências que o futuro pudesse me trazer.
Há mais ou menos 1 ano e meio atrás eu me relacionava com uma pessoa muito interessante, um bom homem, de caráter invejável, calmo, tranquilo, com quem dividi muitos bons momentos, e fui feliz durante um bom tempo. Ficamos noivos e resolvemos que gostaríamos de compartilhar a vida juntos, planejávamos viver uma longa história. Durante o nosso noivado eu acabei decidindo que iria fazer uma cirurgia de redução de estômago, estava pesando 120 kilos e durante toda a minha vida passei por esse processo emagrecer e engordar, mil tratamentos, dietas, e sofrimentos com o espelho. Decidi que havia chegado a hora de acabar com esse sofrimento e viver uma vida nova. E assim prossegui ao que tinha planejado, fiz a operação, emagreci 51 kilos, e enfrentei uma mudança drástica de vida. Passei momentos duros para me alimentar, sonhava com comidas que corriam atrás de mim, me deprimia e ficava feliz ao mesmo tempo. Durante esse processo minha relação com o ex-noivo foi se modificando e eu resolvi que não era o momento de me casar, que eu precisava viver outras coisas antes de tomar essa decisão.
Eu tinha uma amiga, a Priscila Pampolini, que tinha feito a mesma cirurgia que eu há algum tempo, e foi uma das pessoas que mais acompanhou esse meu processo pós operatório. Eu ligava pra ela desesperada todos os dias, perguntando o que eu podia comer, porque não conseguia comer, como se a resposta não fosse óbvia. Depois de uns 3 meses de operada fui me encontrar com essa amiga em uma praça em Belo Horizonte, nessa época eu já tinha perdido cerca de uns 15 kilos, o que fazia uma diferença gritante no meu corpo e no que eu via no espelho. Encontrei com ela nessa praça, e ela estava com uma amiga, que se chamava Juliana. Fomos apresentadas, conversamos, e eu como sempre, com meu jeito aberto, contei um pouco do meu dilema, que tinha acabado de operar, que estava noiva mas não sabia mais se queria me casar, que namorei durante toda a minha vida, dos 16 aos 26 anos, e escutei um conselho que me fez pensar em tomar uma atitude definitiva na vida, que foi a de que o casamento, naquele momento não era a melhor opção. Ela me disse, "você tem que terminar para ficar sozinha, para viver a sua vida, não tem que terminar por nenhum outro motivo". Aquela frase passou uns 4 meses martelando na minha cabeça, mas era o que eu precisava saber para entender que eu tinha que fazer alguma coisa, pois eu não estava mais feliz, e o meu parceiro, diga-se de passagem, um homem muito especial, estava muito triste com a situação que vivíamos. Nesse mesmo dia, eu e Juliana continuamos a nossa conversa, e ela me contou que viria viver em Moscou por um tempo, que era fascinada por cinema russo, e que em 3 meses se mudaria para Moscou, eu rapidamente me recordei de um amigo russo que havia feito no Brasil recentemente.
O Pavel foi uma história engraçada na minha vida, mas acho que ela tinha que acontecer. Conheci Pavel porque minha irmã conhecia um amigo dele. Um dia minha irmã, a Raquel, falou, que ia sair com seu amigo porque um amigo russo tinha chegado no Brasil e que precisava levá-lo para conhecer a noite em BH. Nessa época eu namorava, passava a maior parte do tempo em casa com meu ex-noivo, comendo e dormindo e assistindo inúmeros seriados de TV, como nós amávamos esse programa. Eu falei com a Raquel, “que interessante, um amigo russo”. Por volta de 3 horas da manhã a Raquel me ligou e pediu que eu a buscasse onde ela estava e que eu desse carona para os amigos que estavam com ela no tal bar. Eu me arrumei rapidamente, peguei o carro e fui ao seu encontro, foi a primeira vez que eu vi o Pavel na vida. Ele entrou dentro do carro com os outros amigos da minha irmã, e eu nem sequer ouvi a voz dele, não que eu me lembre. Acho que nessa época ele ainda tinha vergonha de falar português. Depois de um tempo a Raquel sempre comentava histórias desse tal amigo russo, e o amigo dela também conversava comigo sobre, mas eu não voltei a vê-lo. Um certo dia conversando sobre o russo, surgiu o assunto de que ele procurava um lugar para morar no Brasil, e já tinha rodado BH inteira e não achava nada que fosse bom, somente lugares esquisitos, segundo ele. Foi quando eu tive a ideia de oferecer o meu apartamento pra ele. O apartamento estava vazio, e eu somente me casaria no outro ano, estava pagando condomínio sem usar o apartamento, e então fiz a proposta pra ele, você paga o condomínio e está tudo certo. Ele aceitou e viveu lá por 3 meses. Nesse tempo nos aproximamos um pouco, sempre conversava com ele, ele ia na minha casa, tomávamos 1 litro de café, e fumávamos como dragões e ele me contava da vida dele na Rússia, como eram os russos, como era Moscou, o que ele fazia aqui, e como aqui fazia frio. Entre um gole e outro de café eu me atrevia a repetir algumas palavras em russo, eu perguntava como falava tal coisa, ele falava e eu repetia. Quando isso acontecia ele ria, e falava, “sua pronúncia é boa, você devia estudar russo.” Eu ria. Ainda na Praça do Papa com a Juliana, contei pra ela que conhecia o Pavel, que era um russo que tinha acabado de ir embora do Brasil, mas que tinha se tornado um bom amigo enquanto viveu em BH, e falei pra ela, adicione-o no Facebook, diga que é minha amiga, e peça a ele que lhe ajude no que você precisar, que eu tenho certeza que ele fará. Lembro que ela ficou surpresa e disse, "nossa, que bom, eu vou precisar de ajuda mesmo quando chegar em Moscou, pois eu já estudo russo aqui, mas falar ainda é muito difícil, o idioma não é fácil…." lembro como se fosse hoje dessas palavras.
Passado o tempo, logo após eu ter decidido terminar a minha relação, eu liguei pra Priscila e falei com ela que precisava do telefone da tal Juliana, porque precisava agradecê-la pelas palavras daquele dia na Praça, pois foi com aquelas palavras que consegui colocar as minhas ideias em ordem. Liguei pra Ju, e falei, " Oi Juliana, lembra de mim? Queria te contar que terminei a minha relação e lhe agradecer pelas palavras que você me disse naquele dia, elas foram muito úteis para que eu pudesse perceber que precisava realmente viver sozinha." Ela mais que depressa me convidou para sair com ela, já que nesse momento eu era a mais nova solteira do pedaço. Eu aceitei, saímos, bebemos, dançamos, me diverti como não me divertia há muito tempo. Depois disso passamos a sair sempre, viramos como dizem por aí, unha e carne, onde uma ia a outra ia também, e nos encontrávamos religiosamente todos os dias. Um dia, estávamos no famoso Rei do Pastel, na famosa Savassi e eu falando com ela como ia ser ruim que em breve ela iria para a Rússia. Ela ficou olhando e perguntou: "Vamos comigo então!". Confesso que não pensei duas vezes e rapidamente respondi, "Vamos. Eu vou fazer uma loucura na vida.” Eu já trabalhava em um escritório de advocacia há 3 anos, comecei lá como estagiária, e nessa época fazia 1 ano e meio que tinha sido efetivada e era chefe dos estagiários. Eu sempre amei o meu trabalho, mas também sentia que era hora de mudar os rumos da minha história. Conversei com meus pais, que a princípio me acharam maluca, decidi em uma semana que queria ir morar na Rússia, vendi meu carro, meu pai me apoiou financeiramente com o que pode, e eu finalmente comecei a me programar para partir para Moscou em 3 meses, e foi assim que tudo aconteceu .
Conhece o Idioma? Já conhecia quando se mudou?
Atualmente falo um pouco de russo, o suficiente para me comunicar, expressar algumas ideias, ser entendida, mas é um idioma muito difícil, muito, muito mesmo! Nunca tinha ouvido falar no idioma antes. A Juliana me ensinou algumas coisas no Brasil, porque ela já estudava o idioma, mas eu não sabia quase nada, apenas oi, como está, tchau e tudo bem.
O custo de vida é alto, muito alto. Se você quiser viver uma vida confortável, deve ter pelo menos 4 mil reais por mês, no mínimo, porque um apartamento normal, de dois quartos custa cerca de 4 mil reais, se você dividir um apartamento com alguém pode viver com 4 mil reais. Se morar em moradia estudantil como eu, 2 mil reais são suficientes. É parecido com o custo de vida que tinha no Brasil.
Qual a relação de infraestrutura da cidade (estradas, transportes públicos, hotéis, saúde, educação, limpeza) você faz com sua cidade natal?
Difícil estabelecer uma relação. É tudo absolutamente diferente. Transporte público tenho que dar nota 10. Tirando a situação de que o metrô é cheio em alguns horários, o transporte é perfeito. Hotéis, saúde, limpeza ... tudo certo, organizado, muito bom. Quanto à educação, eu posso dizer sobre algumas coisas que vi aqui, que existem bons lugares, mas também existem lugares ruins. E alguns sistemas de corrupção dentro de algumas universidades. Mas prefiro não entrar em muitos detalhes.
Então, o que posso dizer sobre os russos e a cultura desse povo?... A princípio foi um choque, um choque mesmo, de ficar de cabelos em pé, porque achei que eles eram muito sem educação. Atualmente eu sei que não é isso. É o jeito deles. Eles são práticos e objetivos, e isso muitas vezes é confundido com falta de educação. Posso dizer que os russos, quando são seus amigos, são pessoas fiéis, eu tenho um super amigo russo assim. É um paradoxo, porque às vezes os russos podem ser muito amáveis, mas às vezes são muito mal humorados. Eu acho engraçado, por exemplo, que é uma tradição aqui, se você estiver comendo alguma coisa nunca vai ficar sem ouvir um "bom apetite", acho uma tradição muito educada, mas se você demora muito para escolher alguma coisa, em uma loja, ou em um restaurante, eles em geral não tem muita paciência. No inverno eles têm menos paciência, e no verão ficam felizes e são mais pacientes. Eu acredito que o clima, que durante um bom tempo é gelado, gelo mesmo, modifica o humor das pessoas, eu mesma adquiri algumas características da cultura russa no inverno, você realmente ficar com menos paciência. Uma coisa que achei muito interessante aqui, é que quando você fala para um russo que você está cansada, eles nunca vão te perguntar por que, o que você fez que está cansada, pois aqui você não precisa fazer nada para estar cansada, somente de viver no inverno brusco e lidar com a questão da temperatura lhe dá um cansaço físico indescritível, isso é impressionante. Penso que nosso organismo tem que acelerar mais o metabolismo para se manter quente, daí o cansaço. A cultura de beber vodka e não ficar bêbado como nós, eles são ninjas! rsrsrsrsrs A história de que você nunca entra em casa de sapatos, na casa de ninguém, que você nunca dá flores em número par, pois significa morte, a história de que o ano novo é como o nosso Natal. Tem muita coisa bacana aqui pra descobrir ainda.
Tem alguma história engraçada/inusitada que aconteceu com você no país?
Histórias ... várias histórias inusitadas aconteceram comigo aqui, mas tem uma história que foi bem inusitada mesmo, que somente eu contanto que as pessoas podem acreditar, porque é surreal. Eu estava indo para o meu primeiro dia de trabalho, e precisava saber onde ficava a rua da empresa que ia trabalhar. Eu nunca pergunto informações para qualquer um, apesar de Moscou não ser considerada uma cidade muito violenta eu tomo os meus cuidados, questão de sobrevivência mesmo, então sempre pergunto para pessoas mais velhas ou em lojas que vendem alguma coisa. No caminho observei um senhor mais velho, elegante, andava normalmente pela rua. Parei para perguntar para ele se ele sabia onde ficava a tal rua, fiz a pergunta em russo, e ele rapidamente me respondeu em inglês que não falava russo. Eu então repeti a pergunta em inglês, em inglês e ele me explicou que era próximo ao hotel onde ele estava hospedado, que eu o acompanhasse, que quando chegássemos ao hotel ele me explicaria. Eu fiquei meio com medo, desconfiada, mas o acompanhei, nesse dia, nevava muito, muito, muito. Fomos andando rapidamente pelas ruas de Moscou e conversando em inglês, ele falando que estava aqui fazendo negócios e que vinha aqui uma vez por mês para assinar documentos e resolver questões burocráticas. Quando finalmente chegamos ao hotel, eu agradeci e perguntei de onde era... fiquei curiosa. Ele me respondeu em inglês, “eu sou brasileiro”. Eu gritei um “PQP” de toda altura, não acreditava, ele começou a rir compulsivamente e eu chorava de rir... não acreditava na situação, foi bem inusitado e engraçado isso... risos.
O que do Brasil te faz mais falta? Em que momento você sente/sentiu mais saudade?
Sinto falta de me comunicar no meu idioma e ser interpretada e entendida do jeito que quero. Sinto falta de pessoas que deixei no Brasil, da nossa afetividade, os russo não são afetivos no geral, não se apegam como os brasileiros, eu tenho falta de calor humano, de pessoas que me amam verdadeiramente sem qualquer interesse. E tenho saudade do nosso arroz com feijão. Aqui tem, eu já fiz, mas não adianta, não é a mesma coisa. Eu sinto saudades todos os dias, em todos os momentos, impossível não sentir, eu sou muito ligada à minha família. Tenho muita saudade mesmo.
E do que você não sente falta no Brasil?
Não sinto falta do transporte no Brasil que é terrível, não sinto falta dos ladrões também, risos. Aqui eu ando na rua meia noite, uma hora da manhã, qualquer horário, falando no meu Iphone normalmente, sem ter medo de alguém colocar uma faca no meu pescoço, ou um revólver, não sinto falta da tensão que temos que andar no Brasil, sempre ligados em quem está ao nosso redor.
Você gosta da comida local? É muito diferente da brasileira?
Então, a comida russa, tem três coisas que eu gosto muito aqui, cirnik, que é um espécie de bolinho de queijo, com um creme tipo creme de leite, meio iorgute, que chama ezmetana, com frutas vermelhas. Foi a primeira coisa que experimentei logo no dia que cheguei. Gosto de uma espécie de mini pepinos em conserva, é crocante meio cítrico, salgadinho, com maionese ou cerveja é muito gostoso ! E a famosa sopa borche, que é russa eu também, gostei muito, a sopa de beterraba com alguns pedaços de carne. Tem tudo que temos no Brasil, mas não é a mesma coisa, tipo feijão, café. A carne é meio dura, a de boi. Sei lá, não tem igual no arroz com feijão, rsrsrsrs. Eles comem muita batata, isso eu amo também. O hábito de tomar chá e comer biscoitos é super apreciado aqui, ou com chocolate, sempre tem!
Eu sempre amei ir em praças e parques aqui. Tem muitos parques bonitos, muitos lugares pra visitar. As estações de metrô são maravilhosas também, andar no metrô por si só já é uma atração. A noite tem várias boates pra sair com tudo quanto é tipo de estilo musical. Existem milhões de pubs, estilo café, que você pode fumar arguile, que eu também acho sensacional, curto bastante! Os museus também são lugares que valem a visita.
Você encontrou algum problema para obtenção de documentos e visto?
Eu paguei uma empresa para me ajudar, mas os brasileiros podem viver aqui durante 3 meses sem visto, pois o Brasil e a Rússia tem um tratado entre si, que chama Tradado de Bolonha, "O Processo de Bolonha começou em 1998, com a assinatura da Declaração de Sorbonne, por parte dos ministros da educação da Alemanha, França, Itália e Reino Unido. Seu principal objetivo é promover a compatibilização entre os sistemas de ensino de toda a União Européia, proporcionando o aumento da competitividade do Ensino Superior europeu e a promoção da mobilidade e da empregabilidade na Europa. A Declaração de Bolonha foi assinada em 1999 por ministros de 29 países, ficando a partir desse momento estabelecida a criação de um Espaço Europeu de Ensino Superior, até 2010. Desde então, os estados signatários da Declaração vêm mantendo reuniões regulares. A primeira reunião dos chefes de estado que assinaram a Declaração aconteceu em Praga, em 2001. Dois anos depois, em 2005, Berlim sediou a segunda reunião regular, e a último encontro foi em Bergen, em 2007. Nessas reuniões foram discutidas as diretrizes do plano, originando diversas reestruturações à ideia inicial de Bolonha.
A maioria das universidades europeias já está realizando mudanças nas grades e em seus currículos para se adequar ao novo modelo, que facilita o regime de equivalências e permite a mobilidade de conhecimentos e pessoas. "Desde que assinou o tratado, em setembro de 2003, a Rússia seguiu alguns passos para se adequar melhor à nova realidade que ela deverá enfrentar até 2010. Quando começaram as discussões sobre o Tratado, o ministro da educação da Rússia começou a pesquisar as melhores formas de integração do sistema educacional russo com o novo sistema proposto. Para uma melhor coordenação dessas atividades de integração e também para uma expansão dos contatos com os responsáveis pelo assunto em outros países do continente, com a UNESCO e outros órgãos relacionados, um grupo de trabalho para implementação dos Princípios de Bolonha foi criado por um decreto do Ministro da Educação de Ciência da Rússia em 25 de outubro de 2004.
Esse grupo, encabeçado pelo então vice-ministro da educação e com o apoio dos reitores das maiores Universidades Russas, analisou o desenvolvimento da educação superior na Rússia e na Europa em geral. Esse trabalho contribuiu para atrair a atenção dos acadêmicos russos para os benefícios do Tratado de Bolonha, e também para esclarecer seu significado para o público.
Depois que o Tratado foi assinado, criou um grupo de trabalho para a implementação dos princípios de Bolonha no ensino superior. Um dos trabalhos realizados foram o desenvolvimento e a distribuição nas universidades de uma espécie de cartilha, explicando detalhadamente como funcionará o cálculo do sistema de crédito, que será implementado quando o Tratado de Bolonha entrar em vigor."
A falta de paciência, ou talvez o humor meio impaciente me irritam um pouco. E a burocracia com documentações na universidade também é meio chato, mas eu gosto de Moscou, eles dão uma boa estrutura para uma megalópole, mas é preciso ter dinheiro para viver bem.
Qual a relação dos nativos com brasileiros?
Então, depende do nativo. Eu já vi de tudo aqui, uma boa relação e uma má relação. Moscou atualmente tem mais estrangeiros do que moscovitas, sim! Eu nunca me senti desrespeitada nacionalmente falando, ou nunca fui discriminada por ser brasileira. Muito pelo contrário, quando digo que sou do Brasil as pessoas demonstram interesse sobre a nossa cultura, ficam felizes, sorriem! Tem muitos russos que sabem falar português aqui, e curso de português. Quanto a outros estrangeiros eu já não posso dizer a mesma coisa, rsrsrs.
O que é falado sobre o Brasil por aí?
As Primeiras palavras que você normalmente escuta depois que descobrem que você é brasileira são, nessa ordem: carnaval, Rio de Janeiro, futebol ou Ronaldinho, café e calor.
E por aí vai, rsrsrs. Mas eles sabem que há muita pobreza no Brasil, perguntam sobre a questão da violência, e querem saber por que mesmo com tantos problemas nós estamos sempre tão alegres, que não dá para entender. E eles estão certo nesse aspecto, rsrsrs
Gostam da música brasileira? Como é a repercussão das nossas músicas aí?
Pela a minha experiência, do que eu já vi nas ruas, gostam de Michel Teló, "assim você me mata, ai se eu te pego", Gusttavo Lima "gata me liga mas tarde tem balada", rsrsrs. Isso o mundo inteiro sabe cantar. Mas músicas mais culturais não, a não ser que tenham interesse real pelo Brasil, como a Anna e o Pavel, que são russos, falam português e já visitaram o Brasil, eles curtem Legião Urbana por exemplo, Chico Buarque, essas coisas.
Quais são os principais ídolos atualmente no país?
A política aqui tá uma confusão, por causa da história na Ucrânia, na Criméia, acho que posso resumir o que houve com essa reportagem,
"O governo russo ainda negou acusações de uma intervenção militar na Crimeia; nas palavras do próprio Putin, o mundo não "ouviu falar de qualquer intervenção na qual um único tiro tenha sido disparado". Me expliquem como não? Complicado, rsrsrs, mas eu confesso que assisti meio que de longe isso, tipo, eu sou estrangeira, não estou conseguindo defender nem o Brasil direito, vou apoiar manifestações na Rússia, pode parecer meio que desinteresse pelo lugar em que se vive, mas aí estou tão acostumada a não crer em política. Mas posso dizer que o povo gosta do Putin, eles geralmente tem medo de vir um pior eu acho, rsrsrsrs. Esporte que eu acho que eles realmente tem orgulho é a patinação, ganharam muitos prêmios nas Olimpíadas de Sochi. Eles jogam futebol também, mas confesso que não sei muito bem quais são os favoritos. Tem muita música russa legal, eu gosto de ouvir, e tem músicas russas que se começam a tocar nas boates e todo mundo canta, todo mundo sabe. É legal, divertido ver que são como nós nesse aspecto, alegres quando interagem socialmente, com vodka, claro! rsrsrs
O que você costuma assistir na TV?
Não assisto TV aqui. No Brasil não assistia muito nos últimos tempos, aqui muito menos. Prefiro ler, estudar, tomar uma cerveja, ouvir uma música.
Há alguma mania/febre no país atualmente?
Eu não consigo pensar nisso. Talvez até tenha, mas eu não sei dizer. Uma coisa que tem em todo lugar é o tal do arguile que falei. É tipo uma febre, rsrsrsrs. Todo café, todo bar, tem. E todo mundo fuma cigarro aqui, todo mundo! Seja jovem ou idoso, muita gente fuma! rsrs.
Você conheceu ou utilizou algum produto ou serviço que recomendaria a ser utilizado no Brasil?
Aqui tem umas máquinas em todo lugar que você vá, que você pode pagar internet, telefone, skype, em todo canto tem, isso eu achei bem legal!
E algum produto ou serviço esquisito, já encontrou por aí?
Nunca parei para pensar nisso, serviço esquisito, rsrsrsrs. Aqui não tem nada muito normal, mas serviço esquisito, eu não sei.
Quais são os esportes mais populares no país?
O esporte mais popular aqui é o futebol mesmo, até onde eu sei, rsrs.
Você gosta da música do país? Tem algum cantor ou banda que recomenda?
Eu gosto de algumas músicas, claro, mas não tem cantores que recomendaria.
Conhece alguma história (ou lenda) da cultura que pode contar?
Sim, a história das Matrioskas. Reza a lenda que um artesão moldou uma boneca tão bonita que não queria mais vendê-la. Levou-a para casa, colocou-a junto ao criado mudo e batizou de Matrioshka. Todas as noites, antes de dormir, o senhor perguntava se ela estava feliz. Até que certa noite, Matrioshka pediu um bebê. O artesão esculpiu, então, uma boneca menor chamada Trioshka, serrou a Matrioshka e colocou o bebê dentro dela. Na noite seguinte, a Trioshka também pediu um bebê, O senhor fez uma nova boneca e colocou-a dentro da Trioshka, desta vez o bebê se chamava Oshka, assim, seguindo o caminho das outras. Nas noites seguintes Oshka pediu um bebê, e lá se foi novamente o senhor fazer mais uma. Desta vez, pensando que isso não iria acabar mais, o artesão fez o bebê, desenhou rapidamente um bigode nele e o chamou de Ka, garantindo que seria homem, e assim não poderia pedir outro bebê novamente.
Curiosidade: Em alguns lugares as bonecas são feitas sem boca, para que não façam pedidos e sim escutem os desejos de seus donos. Ao atenderem o desejo, uma boca deve ser desenhada nela. São símbolo da cultura russa, com certeza!
Pensa em voltar para o Brasil? Se sim, quando?
Sim, claro, com certeza! Volto para o Brasil em junho de 2014, e ainda não decidi se voltarei para cá, vou decidir quando estiver no Brasil.
Acho que posso definir com gratidão. Mesmo nos momentos mais duros em que estive aqui eu aprendi com cada detalhe. Agradeço ao povo russo, por ter me ensinado como ser boa e como ser má, isso será levado para uma vida toda!
O que mudou em você antes e depois da Rússia?
Antes da Rússia eu era uma pessoa que se preocupava muito em que os outros de uma maneira geral, gostassem de mim, isso era realmente muito importante pra mim. Depois da Rússia posso dizer que f#%€^£¥, eu me importo com quem eu gosto, e isso pra mim é mais que suficiente, se o outro não está gostando de mim, ok, siga a sua vida. Eu aprendi aqui que é possível ser feliz sozinha.
E qual visão sobre o país você tinha antes de ir, e o que mudou nessa opinião?
Eu não tinha uma visão muito definida sobre a Rússia, eu decidi que viria em 1 semana, 3 meses depois estava embarcando, mas sabia que era muito frio, muito frio. Isso não mudou, eu comprovei, faz mesmo muito frio! Mas tem uma coisa que eu posso dizer é que eu não sabia como era, a corrupção, eu pensava que o Brasil talvez fosse mais, mas agora vejo que apenas a maneira se corromper muda.
Se tivesse um filho, quais características ensinaria/gostaria que ele tivesse do jeito brasileiro e da maneira russa de ser?
Do jeito brasileiro a solidariedade com o próximo, e do jeito russo, com toda certeza, a objetividade. Se tem uma característica interessante nesse povo e que eu admiro muito é a capacidade deles em dizer com objetividade e às vezes com uma franqueza que até machuca, se querem ou não querem, se gostam ou não gostam, e falam sem medo de dizer, porque sabem que serão compreendidos, e mesmo se não forem, vão agir assim.
Viver na Rússia é...
Ter a cada dia uma história para contar, uma situação diferente para dividir. Aqui tudo acontece, de repente você está de um jeito, e de repente está de outro, completamente diferente. Eu não sei se é uma experiência minha, ou algo que somente eu sinto, mas por viver em uma região onde vivem não sei quantos mil estrangeiros, eu sinto que as energias muitas vezes se misturam muito e coisas estranhas acontecem. Não consigo explicar, mas acontecem, e as pessoas passam por momentos duros aqui, e às vezes por momentos leves, depende pra que lado a energia está soprando. Que conselhos você daria a quem pretende visitar ou até mesmo se mudar para o país?
Para visitar eu dou um conselho de que venham, sem pensar, vale a pena conhecer esse país, esse povo, esse idioma, a comida, vale muito a pena mesmo. Mas para os turistas recomendo cuidado, atenção, principalmente no metrô ou em eventos com grande número de pessoas. Não se esqueçam que em Moscou vivem mais estrangeiros do que Moscovitas. Para quem deseja se mudar para o país eu aconselho a pensar e pesquisar muito sobre o que você quer fazer. Se for para estudar, pesquise MUITO, MUITO BEM! Não confie em empresas que fazem e prometem milagres. Procure universidades sérias e respeitadas, aqui tem várias, e estude o idioma, é preciso falar russo para morar aqui, ou vai sofrer muito. E se quiser saber mais coisas, pode me mandar um e-mail, eu posso contar para você o que eu sei, anote: marinasos1@gmail.com.







3 Comentários
Muito corajosa, Mariana. Parabéns! Sorte e tudo de bom! Abçs.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito obrigado por compartilhar a sua experiência . Eu conheço um russo e as definições de como os russos são se encaixaram perfeitamente. Parabéns.
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