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"Não esperava nem de perto passar por tudo que passei."




O capixaba Saulo acaba de completar um ano de intercâmbio na França. Ele passou pela capital do país e outra pequena cidade até chegar em Bordeaux, onde vive atualmente.





Saulo Sampaio
22 anos
Cidade: Bordeaux, antes Cluny, antes Paris
Cidade Natal: Vila Velha - ES


Há quanto tempo está morando fora do país?
Saí do Brasil no dia 23 de Junho de 2014 e cheguei em Paris no dia 24, então são 11 meses.

O que te levou a sair do Brasil?
Essa resposta é um pouco complexa. Já havia viajado para os EUA quando tinha 19 anos, achei a experiência de passar 20 dias em NY incrível o que de certa forma fez eu me interessar por "sair do Brasil". Na universidade descobri o programa CSF e o BRAFITEC (esse que faço parte) que já existe na minha universidade (UFES) há cerca de 15 anos. Procurei saber um pouco mais sobre os programas e vi neles a oportunidade de unir a experiência de viver fora do Brasil com uma melhor formação acadêmica, e o melhor, tudo bancado pela CAPES e CNPQ. Acredito que o que realmente me levou a sair do Brasil foi a união de tudo isso: vontade de morar fora à partir da experiência que já havia tido, melhorar minha formação acadêmica, aprender um novo idioma, ter todo esse intercâmbio custeado pelos órgão de pesquisa científica e por fim o que todo mundo gosta que é viajar, curtir, conhecer novas pessoas e culturas.

Porque escolheu Bordeaux e a França?
Na verdade eu não escolhi. Tudo começou quando me inscrevi pra Ecole d'Arts et Métiers de Paris, após meu coordenador aprovar meu dossiê e minha especialização em compósitos a CAPES se responsabilizou por encontrar um curso de Francês de dois meses na mesma cidade, no caso Paris. O problema foi que após tudo resolvido meu coordenador me ligou falando que não havia mais vagas na especialização escolhida e que eu precisava trocar, ele me passou as opções e eu escolhi "Madeiras e materiais renováveis", porém ele não me disse que era em outro centro da Arts et Métiers (a faculdade tem vários centros espalhados pela França), com isso eu fui parar em uma cidade, na verdade uma vila, na real um vilarejo chamado Cluny, que fica cerca de 1:30 de Lyon, bem no centro do que os Franceses chamam de Campagna (Campo). Foi lá que eu fiz minha especialização que na verdade não tinha nada a ver com materiais renováveis e mais parecia um curso de carpintaria e construção em madeira. Passado o primeiro período da faculdade em Cluny, eu precisava fazer um estágio de seis meses segundo o calendário acadêmico, caso não o encontrasse ficaria em Cluny fazendo pesquisas em laboratório. Após muitos e-mails e muita procura consegui um estágio em uma empresa que faz rolhas de vinho que fica em Eysines, bem ao lado de Bordeaux, e como foi o único estágio que encontrei e então vim. Mas por incrível que pareça antes disso tudo já sabia que teria de fazer o estágio e sempre falei com meus amigos que se pudesse escolher iria estagiar em Bordeaux devido ao que já havia visto e escutado sobre a cidade, e realmente ela é bem diferente do resto da França, uma cidade bem litorânea, culinária voltada para o mar, onde as pessoas fazem bastante esporte, de certa forma quente para os padrões franceses.

Você mora sozinho?
Em Bordeaux moro sozinho em um estúdio no centro da cidade, como também estou recebendo dinheiro do estágio pude me dar esse luxo de ter uma casa só para mim, com minha cozinha, meu banheiro onde posso fazer o que quero quando quero. Porém em Paris durante os dois meses do curso de francês morei em uma residência estudantil, onde tinha um quarto de 10m² para mim e uma cozinha e alguns banheiros compartilhados com todo um andar de estudantes, cerca de 40 pessoas. Já em Cluny tive uma experiência bem legal, a faculdade é dentro da lendária Abadia de Cluny, pois antigamente era uma faculdade militar e a Abadia já foi ponto de suporte para guerras e tudo mais. A residência universitária também é dentro da Abadia, então dividi um apartamento lá dentro com 5 franceses que eu não conhecia, um deles já tinha morado no Brasil e outro era nobre, descendente do Luís IX. O apartamento era dividido em 2 quartos bem grandes (com mezaninos) onde dormiam 3 pessoas em cada um e tínhamos 1 banheiro, 1 chuveiro e 4 pias na zona comum do apartamento, porém a cozinha era compartilhada com todos os outros estudantes da residência. Tive muito medo de morar com pessoas desconhecidas, porém foi tudo tranquilo, aqui na França as pessoas respeitam muito o espaço dos outros, não tive problemas com minhas coisas. Com certeza valeu a pena ter morado em uma Abadia com mais de mil anos de história com pessoas nativas.

Qual seu grau de domínio da língua?
Atualmente posso dizer que sou fluente, por mais que ainda falte um pouco de vocabulário como por exemplo saber o nome de todos os animais ou todas as partes de um carro. Já consigo conversar sobre qualquer assunto, seja em uma conversa cotidiana ou em uma reunião de trabalho.
No Brasil estudei por pouco tempo antes de vir, o suficiente para conseguir a proficiência exigida, mas não pense que foi pouco, durante 4 meses dedicava ao menos 1 hora por dia exclusivamente para o francês, fora o curso 2 vezes na semana e algumas aulas particulares. Mas foi relativamente rápido para atingir o nível B1 que em um curso normal demora cerca de 2 à 3 anos. Ao chegar fiz um curso intensivo de verão de duração de 2 meses, que foi muito bom, pois comecei a aprender o francês corrente, o curso ainda incluía visitas culturais, passeios por Paris, o que ajudou cada vez mais na língua. Mas sem dúvida que o realmente fez desenvolver meu francês foi o cotidiano e principalmente os desenrolos da balada, porque não é nem um pouco fácil chegar em uma garota em outra língua.
Por fim quando já estava há uns 4 meses na França descobri o sistema de caronas que funciona muito bem por aqui e isso fez a minha verdadeira imersão na cultura e na língua, quando viaja-se de carona conversa-se muito com as outras pessoas e sempre existem aquelas perguntas clichês mas nem um pouco fáceis, sobre a situação do Brasil, política, economia, favelas, violência... e explicar tudo isso fez com que meu francês melhorasse muito, além de escutar durante as viagens nativos falando as vezes por 5 ou 6 horas sobre diversos assuntos.

Qual o custo de vida, comparando com o de sua cidade?
Acho um pouco injusto falar isso de maneira direta, afinal tem todo o câmbio e a questão de salários mínimos bem diferentes, todavia com mil euros você consegue ter uma vida boa em Bordeaux, com 3400 reais você consegue ter uma vida boa em Vila Velha, talvez até maior poder de compra que em Bordeaux, porém ao comparar salários mínimos que no Brasil é R$788,00 e na França €1321,00 sem dúvida a qualidade de vida que se obtém é muito maior em Bordeaux, já que recebendo um salário mínimo por aqui você tem um poder de compra absurdamente maior do que recebendo um salário mínimo em Vila Velha.
Resumindo, para um trabalhador brasileiro, Bordeaux é mais cara do que Vila Velha, mas ao comparar um trabalhador brasileiro em Vila Velha e um trabalhador francês em Bordeaux, sem dúvidas Bordeaux é mais barata.

Qual a relação de infraestrutura da cidade você faz com sua cidade natal e o Brasil?
Algo que na França funciona extremamente bem é o transporte público, como a sociedade tem uma preocupação social muito grande muitas vezes eles mantêm serviços de transporte apenas com função social e não a fim de arrecadar dinheiro. Com ônibus, metrôs, trens, bicicletas e até carros elétricos. Com relação as estradas: são muito boas, mas praticamente todas tem pedágios bem caros e o método mais tradicional de viagem na França é de trem, o famoso TGV (train grand vitesse), pois o tempo de viagem é pouco maior do que de avião, a passagem é no geral mais barata e os franceses adoram, de certa forma é bem conveniente pois as estações são sempre nos centros das cidades, com fácil acesso e os preços não variam muito se deixar para comprar na hora.
Na saúde os estudantes são obrigados a fazer um seguro que cobre a maior parte das despesas, mas sempre é possível fazer um seguro complementar para cobrir até 100% das despesas, até mesmo com medicamentos, óculos, camisinhas... e são bem mais baratos que planos de saúdes brasileiros. Mas como é por quase todo mundo, em um hospital o atendimento muitas vezes existe demora, você não encontra médicos livres para o dia seguinte no caso de algo mais sério, para o seguro cobrir uma consulta em um médico especialista primeiro é necessário ir a um médico generalista e ele verificar se você precisa daquele tipo de especialista, ou seja, muita burocracia.
Em educação como escola e faculdades aparentemente funciona bem, por mais que o sistema seja bem diferente do Brasil, pois aqui eles valorizam muito mais o esforço do que os resultados. Quando falamos de educação “como pessoas te tratam na rua”, tomamos um choque. Um dos lemas da França é a liberdade, isso significa que você pode falar o que quer, quando quer, desde que fale de maneira respeitosa. Caso eles se incomodarem vão te xingar, falar merda, te esculachar usando termos como "Vossa Senhoria" e "Senhor", conjugando os verbos com o Vós. O que para a gente é muito estranho, pois se alguém te trata dessa maneira no Brasil, no dia seguinte vocês em teoria estão brigados, mas aqui na França a vida continua e no dia seguinte a pessoa te trata como se nada tivesse acontecido.
Com relação à limpeza a França tem um sério problema, seja com banhos, escovar os dentes ou com a limpeza da barraquinha que vende crepes e croissants, as vezes parece que aqui não tem vigilância sanitária, mas com o tempo a gente se acostuma. Nas ruas, os grandes centros como Paris são como quaisquer grandes cidades do mundo, tem lixo pelo chão, existem mendigos, "favelas", partes sujas, mas as cidades menores e para o interior são mais bem cuidadas.
Falando de serviços de modo geral (hotéis, restaurantes, lojas...) não tem a cultura de cliente sempre tem razão, é muito mais uma troca de "favores" de ambos os lados, isso é um pouco chocante no início, pois não temos atenção do garçom todo o tempo, não há um vendedor do nosso lado nos auxiliando, mas como é por todo lugar, onde tem gente simpática e gente rude, mas a grande maioria das vezes os franceses não farão nada além da obrigação pra tentar resolver sua situação, vão apenas dizer que não é o trabalho deles e que não podem fazer nada.

O que te chamou atenção na cultura francesa?
Acho que o que mais me chamou atenção foi o fato da tal "liberdade". Aqui você pode realmente falar o que quiser desde que utilize termos polidos. Exemplo disso são as mídias que passam severamente do que teríamos como linha no Brasil (por exemplo a Chalie Hebdo). De certa forma isso é bom pois você pode expor suas ideias e ideais sem risco de repressões e sem medo. O problema é que eles podem ser bem rudes e agressivos em algumas discussões e cinco minutos após estarem te tratando de maneira normal como amigo o que ainda não entra muito bem na minha cabeça.
Outra coisa que não tinha ideia que ocorre aqui é uma diferença gritante de costumes de uma região para outra. No Brasil isso ocorre, onde a cultura do Norte é bem diferente do Sudeste ou do Nordeste e do Sul. Aqui acontece algo parecido, mas a França é muito menor que o Brasil. Claro que a região influencia, se é perto do mar, um grande centro urbano ou um campo, mas não imaginava diferenças tão grandes em um país pequeno.

Tem alguma história engraçada/inusitada que aconteceu com você no país?
Histórias existem várias, por exemplo, quando vimos dois soldados franceses abastecendo um tanque de guerra enquanto viajávamos para Oktoberfest, ou quando conhecemos um monge em Barcelona e até quando alugamos um apartamento pelo Airbnb em Marseille que o dono deixou o gato dele com a gente que batizamos de "Pagodinho".
Mas a mais inusitada foi na volta do réveillon que passamos em Londres, voltávamos de ônibus e já na entrada do Eurotúnel uma amiga percebeu que tinha ficado com a chave do carro que seu irmão havia alugado para viajar pela Europa (ele também estava com a gente em Londres), nisso ela precisou voltar até Londres de trem para devolver a chave. O problema é que aqui na Europa com todo esse problema de terrorismo, quando uma pessoa desce de um ônibus antes dele chegar no destino é ativado o alerta de bomba. Com isso todo mundo teve de descer do ônibus e passar no raio-x com todas as bagagens e como ela estava comigo e outros amigos nós ficamos como os principais suspeitos, tanto que na hora de passar no raio-x eu estava usando uma cartola que tinha comprado em Londres, até ela teve que ir pro raio-x e também pediram para eu abrir minha mala e a revistaram minuciosamente.

O que do Brasil te faz mais falta? Em que momento você sente ou sentiu mais saudade nesse tempo?
Sem dúvida o que mais sinto falta é o ambiente que tinha no Brasil, minha casa, minha família, minha praia, minha prancha, coisas assim do cotidiano, mas se for pra especificar prefiro fazer uma lista: praia, calor, não precisar falar francês, frutas tropicais (as daqui não tem muito gosto), festas do Brasil e natureza.

Do que você não sente falta no Brasil?
Dos problemas sociais, principalmente da violência, seja com assaltos ou no trânsito. O sistema de saúde falho, o transporte público caro e pouco eficiente, não poder sair na rua de madrugada e andar tranquilo e tantas outras coisas que aqui não precisamos nos preocupar.


Você gosta da comida francesa? É muito diferente da brasileira?

Sim e sim! A França tem uma base de alimentação bem diferente do Brasil, aqui eles realmente comem pão, queijo e vinho todos os dias, as vezes até em todas as refeições. Como sou um apreciador de queijos e vinhos não foi muito difícil me adaptar as fromageries (queijarias) existentes por aqui com mais de 100 tipos de queijo, ou morar em Bordeaux, capital mundial do vinho. O lado ruim é a parte de temperos, muitos restaurantes não temperam a comida da maneira que estamos acostumados no Brasil e no começo achava tudo "sem gosto". Aqui tem muitas frutas locais que são melhores e mais baratas do que no Brasil como: amora, framboesa, mirtilo, pera, morango... mas as frutas tropicais são um desastre, achar uma manga ou um mamão digno é impossível e são caríssimos, uma vez paguei 5 libras (R$ 24,00) por 700 ml de um suco de açaí.


O que você costuma fazer nos momentos de folga? Quais os programas existem para se fazer na cidade?
Hoje o que eu tenho como hobbie é meu canal no Youtube, o VaiDireto, que comecei com uns amigos afim de dar dicas para as pessoas que desejam vir pra França para não passarem pelos mesmos problemas que passei. Hoje já falo sobre viagens e outros temas com um pouco de humor e entretenimento.
Bordeaux tem um estilo bem diferente da França, ela contrasta as igrejas antigas (cerca de 1000 anos) com jovens mandando manobras de skate em suas escadarias ou então pessoas com 60 anos andando de patinete no calçadão ao lado do rio. A cidade é viva, bem movimentada, bem esportiva, por estar a 1 hora de Lacanau, um dos centros do surf na Europa, também tem muita cultura de praia. Claro que também tem as festas e os bares, como existem muitos estudantes na cidade as noites são animadas, algo curioso é que na quinta-feira (dia da festa de estudantes) os ônibus e trens ficam lotados a partir das 11 com música, gente bebendo e fumando como se fizessem o pré ou esquenta por ali mesmo.

Você encontrou algum problema para obtenção de documentos e visto?
Nenhum, como sou bolsista do Governo Federal e minha universidade tem um contrato com a universidade francesa tudo foi bem fácil, eu tinha todos os documentos exigidos e segui os passos já indicados pelo Campus France que é o órgão responsável pelos estudantes aqui na França.

O que você menos gosta na cidade, ou no país?
A maneira como eles estruturam as coisas. Aqui tudo é muito burocrático, tudo tem que seguir protocolo, ser enviado pelo correio, comprar o selo do governo... coisas assim, até que dá pra entender um pouco por conta de todo esse medo que eles tem com terrorismo, imigrantes e tudo mais, mas eles exageram principalmente para coisas simples. Outra coisa é que os franceses não conseguem pisar 1cm fora da linha, não tem aquele improviso que brasileiro tem, eles seguem procedimentos e métodos fielmente, como se decorassem um livro inteiro, mas na hora de aplicar isso numa situação diferente do que já viram não conseguem.

Qual a relação dos nativos com brasileiros? Você possui amigos franceses?
É bem tranquilo, brasileiro de modo geral é bem visto por aqui, eles sempre querem saber sobre a política, o carnaval, a Amazônia, o Rio. Como de costume no exterior sempre rola aqueles estereótipos, alguns verdadeiros, outros não, mas de modo geral eles sempre querem saber qual a realidade que vivemos e se o que passa na televisão por aqui é verdade ou não.
Sobre amigos franceses tenho alguns, mas como mudei de cidade duas vezes não consegui fazer uma amizade verdadeira, mas por onde passei sempre me dei bem com os nativos e nunca tive problemas pra fazer amigos.

E a relação com brasileiros? Há muita interação entre os nossos compatriotas?
Aqui tem muito brasileiro, principalmente estudando. Quando a gente mora fora, longe da família e dos amigos acabamos nos apegando muito fácil a quem está por perto, e acaba que fazemos uma nova "família" por aqui. Quando morei em Paris estudei com cerca de 50 brasileiros, então fazíamos muita coisa juntos, festas, passeios, viagens, depois de um tempo a gente vai se separando e ficando com um grupo menor, que é inevitável. Aqui em Bordeaux tenho alguns amigos brasileiros, sempre vamos a festas ou eventos da cidade, a mais recente foi uma festinha que um amigo meu fez de despedida do seu apartamento, estavam previstas umas 30 pessoas, mas sabe como brasileiro é com festa, no final tinha umas 80.

O que é falado sobre o Brasil por aí?
Essa pergunta é ótima, até estou pensando num vídeo novo pro VaiDireto sobre ela. Os franceses sempre querem saber o que se passa no Brasil, então eles fazem perguntas sobre o que eles veem na TV como: "É verdade que se você sair na favela você morre com um tiro?", "Todo mundo no Brasil sabe jogar futebol e sambar?", "Vocês fazem muita cirurgia plástica?", "E a presidente, é uma mulher né?", "Porque que no Brasil tem muito travesti?" (apenas para ilustrar a palavra "brasileira" aqui na França é gíria para travesti), "E o Neymar/David Luiz/Thiago Silva/Ronaldinho?"... Acho que da pra ter uma noção do que é falado por aqui com essas perguntas. Por fim eles têm uma ideia que o Brasil é um ótimo lugar para trabalhar, um lugar com muita oportunidade de emprego e que está em desenvolvimento acelerado.

Como foi o seu processo de intercâmbio, desde o Brasil?
Como disse sou bolsista do BRAFITEC e precisei passar por todo o processo seletivo que incluía: teste de pro eficiência, análise de currículo, entrevista em Português e Francês, carta motivacional... No BRAFITEC, diferente do CSF, você se inscreve pra uma universidade específica, e após todo o processo saiu o resultado e tinha sido aprovado para minha primeira opção: Arts et Métiers. A partir daí foi só seguir os protocolos e as dicas dos veteranos que já tinham ido ou que estavam na França. O problema é por se tratar de algo do governo tudo é feito em cima da hora, ou seja, os documentos chegavam no limite do tempo, o que fazia ficar emocionante as semanas antes da viagem, como no caso de tirar o visto. O meu ainda chegou com folga 5 dias, mas teve gente que recebeu ele em casa de manhã para pegar o voo à noite.
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Como você avalia o sistema de aulas? Há muita diferença para o que você era acostumado?
Eu não gosto do estilo usado aqui. São muito diferentes os sistemas, aqui eles dão bem mais valor ao esforço e nem tanto para o resultado, até mesmo na faculdade existe aquele "conselho" que tinha na escola, onde o aluno pode passar mesmo se não obteve notas suficientes, assim como pode reprovar mesmo com notas suficientes. A sala de aula em si é outro universo, por aqui não se pode sair de sala, nem para ir ao banheiro. Quando existe alguma emergência os professores ainda te olham de cara feia, e falando em professor, assim como em Universidades Federais no Brasil, eles são tratados como deuses por aqui e possuem total liberdade dentro da sala.

Você conheceu ou utilizou algum produto ou serviço que recomendaria a ser utilizado no Brasil?
Vários. Os mais absurdos sem dúvida são o Driiveme e o Blablacar. Até fiz um vídeo falando sobre eles, o primeiro é um sistema de aluguel de carros por 1,00 € e o outro um sistema de caronas. Infelizmente no Brasil não existe nada parecido, nem sei se daria certo também, mas por aqui é algo que funciona extremamente bem, além de ser uma maneira mais barata de viajar. Espero que um dia o Brasil tenha ao menos um serviço de caronas parecido com o Blablacar!

E algum produto ou serviço esquisito, já encontrou por aí?
Pasmem, mas aqui existem anúncios nos classificados de mulheres que querem só dar umazinha e pronto! Quando me mudei pra Cluny, olhei os classificados a fim de encontrar um AP e tinha coisas do tipo: "Mulher, 45 anos, recém divorciada busca homem para sexo casual sem blablabla!" ou "Mulher, 50 anos, busco homem entre 20 e 40 anos posso realizar todas as suas fantasias, não cobro!". Caímos na questão da "liberdade" que é um lema da França, mas chegar nesse nível foi bem estranho!

Você gosta da música do país? Tem algum cantor/banda que recomenda?
Sim, curto bastante alguns cantores franceses, mas não se empolgue porque o Brasil é muito melhor quando trata-se do meio artístico.
Daft Punk, Dj Antoine, David Guetta, Stromae (Belga), Mika (Libanês) e Black M.


Conheceu alguma história ou lenda da cultura que pode contar?
Acho que melhor que lenda é a Fraternidade/Seita/Grupo que existe na faculdade que estudo que se chama Gadzart. A Arts et Métiers antigamente foi a escola militar da França e por conta disso existem resquícios militares muito fortes. No centro de Cluny (um dos piores) os estudantes marchavam toda quarta-feira às 22:45, o trote dos calouros mais parecia um treinamento militar que dura por alguns meses, fora as obrigações, como usar uma capa todo o tempo que você está dentro da escola, não poder cortar o cabelo nem a barba durante 1 ano, só poder andar em ângulo de 90°... fora os rituais que eles faziam. Mas não tinha nada de extraordinário, apenas muito bizarro, a grande vantagem é que todos os estudantes dessa fraternidade se ajudam, com isso que consegui meu estágio em Bordeaux, meu chefe também é Gadzart o que facilitou muito.

Existe algum programa do governo que lhe chame a atenção?
CAF! Pode ser comparado ao bolsa família do Brasil, mas com um valor um pouco mais alto (pode chegar a 700 euros), ela inclui também estudantes estrangeiros que moram de aluguel e recebem um auxílio de custo, entre 100 e 200 euros para ajudar a pagar a moradia. Mas como sempre tem muita gente que é contra, tem muita gente que usa o benefício de má fé, mas a França tem uma pegada socialista muito forte.

Suas expectativas sobre a experiência e o que esperava do país/cidade foram atendidas, além ou aquém?
Da França em si preferi não criar expectativas e ver o que realmente viveria por aqui, mas da experiência do intercâmbio sem dúvida foram muito superiores ao que imaginava! Acreditava que seria uma ótima experiência, afinal todo mundo sabe que é muito bom viajar, mas realmente não esperava nem de perto passar por tudo que passei, por todas as situações, viagens, aventuras.

Quando finalizar o intercâmbio, sua intenção é permanecer ou voltar para o Brasil?
Como faço parte de um programa de graduação sanduíche tenho que voltar para terminar minha graduação no Brasil, mas pretendo num futuro próximo morar em outro país, talvez na Califórnia ou em Melbourne. Durante essa experiência percebi que o mundo é muito grande e não pretendo passar o resto da vida no Brasil.


Qual o seu sentimento pela França?
Não sei muito bem como responder isso, mas acho que posso dizer que tenho um respeito muito grande pelo país!


Se tivesse um filho, quais características ensinaria/gostaria que ele tivesse do jeito brasileiro e da maneira francesa de ser?
Sem dúvida o "feeling" que brasileiro tem! Brasileiro consegue se virar e sair de qualquer situação, consegue se adaptar muito fácil a quase tudo, acho que é porque no Brasil temos situações bem mais críticas então atravessar as que encontramos por aqui é mais fácil. Do jeito francês, talvez o nível de respeito que eles têm com as decisões alheias, ninguém se mete na sua vida pessoal, você pode fazer o que quiser e não será julgado, coisa que no Brasil não existe.

Viver na França é...

FRANCESAR! (Um poeminha)
Viver na França é se adaptar a cultura e uma língua não tão lógica!
É queijo e vinho todos os dias!
É tomar não mais de um banho por dia!
É LIBERDADE, IGUALDADE e FRATERNIDADE!
É estar no centro da Europa!
É Paris! É a Torre! É a História!
É a Champs-Elysées! É Napoleão e Glória
É o Louvre e a Monalisa! 
É Saint-Tropez na Côte d'Azur,
E os Alpes na beira da Suiça!
É a Guerra! É arte!
É Zidane e Plantini!
É Pierre e Marie Curie!
É Vuitton! É Prada! É Dior e Lacoste!
É Eiffel e Bézier! É Pascal e Fourier!
É ser "Franco"!
É Azul, Vermelho e Branco!

Que conselhos você daria a quem pretende visitar ou até mesmo se mudar para o país?
São muitas coisas pra resumir em uma resposta! Primeiro eu digo pra assistirem o VaiDireto no Youtube! HAHAHA! Pode parecer piada, mas assistir vídeos, ler textos e conversar com quem já teve essa experiência acho que é a melhor maneira de se preparar, por mais que saibamos sobre o local e a cultura, nunca é realmente a imagem que temos no Brasil. Então minha dica é procure saber com quem já foi, pergunte, tire suas dúvidas, dessa maneira vai ser mais fácil a viagem e a adaptação! 

E para quem gostaria de fazer um intercâmbio?
A regra não muda, é a mesma situação, procure conversar com pessoas que estão fazendo o mesmo programa na mesma cidade que você deseja, ou que já o fizeram. Por que assim tudo vai ficar mais fácil, a chegada, adaptação e a vida em um novo país.

PERGUNTA DE WILTON BLACK (Último entrevistado):
Muita gente diz que muitos franceses não sabem ou não gostam de falar inglês. É um mito ou a realidade? É preciso saber francês para visitar o país?
Não sabem é realidade, não gostam é mito! Os parisisenses não são muito chegados em falar inglês, no resto da França é bem tranquilo quanto a isso. Mas o grande problema é que a maioria das pessoa fala muito mal inglês ou falam com uma entonação muito forte francesa, que parece que eles estão apenas falando palavras inglesas em francês. Para visitar o país não é necessário falar francês, mas como eles têm essa enorme dificuldade para falar um inglês fluido falar francês facilita muito a sua estadia, principalmente nas cidades não turísticas.

4 Comentários

  1. Muito legal a sua visao! Tambem morei na Franca e a experiencia foi incrivel.
    Agora estou escrevendo sobre as coisas sobre o Brasil que nao parecem tao obvias aos estrangeiros. Vcs tem algo pra me contar?
    www.5thingsbrazil.wordpress.com

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  2. Olá, Saulo. Vc ainda está em Bordeaux?

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  3. Olá, gostaria de saber se tu foi como cidadao europeu.

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  4. Boa noite, tudo bem? Vc indica algum bairro para alugar um apartamento bom, seguro e barato? Obrigada

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