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"Me tornei cidadão do mundo, menos intolerante, livre de regras"




Pouco mais de uma década se passou de quando Mendelssohn embarcou para a Itália com sua família. Tempo suficiente para ele se encantar com a cultura e culinária do país. Tempo que o fez perder a vontade para retornar. 







Nome: Mendelssohn Rodrigues
Idade: 31
Cidade atual:
Milão 
Cidade Natal:
Vitória - ES

Há quanto tempo está no país? Você mora sozinha ou divide com alguém?
Há 11 anos, sempre em Milão. Atualmente com meus pais e um irmão, mas já morei alguns anos sozinho, um tempo com meu irmão, um tempo com amigos.

Qual era sua atividade no Brasil e o que faz agora, na Itália?
Vim pra cá muito jovem, com 20 anos. No Brasil a minha maior ocupação era o teatro, estudei por alguns anos e tinha vários grupos de teatro, fazia apresentações nos teatros do meu estado e pequenos trabalhos como ator. Atualmente trabalho em uma loja Zara no centro de Milão, já faz 8 anos, mas já trabalhei em escritório, em depósitos e já tive meu período desempregado também.

O que te levou a sair do Brasil?
Foi uma decisão em família, meus pais sabiam que eu e meus irmãos teríamos poucas oportunidades de futuro no Brasil e sempre se falou muito que a Europa era um lugar melhor pra se viver.

Porque escolheu Milão e a Itália?

Escolhemos a Itália porque sabíamos ter direito a cidadania italiana, graças aos meus trisavôs por parte da minha mãe que foram viver e trabalhar no Brasil no final dos anos 1800, então obviamente tudo seria mais fácil por aqui com a cidadania. Foram muitos anos para juntar todos os documentos e muito dinheiro gasto também pelos meus pais, mas valeu a pena, é muito importante ter a cidadania aqui. A escolha por Milão foi muito por acaso, seria Roma ou Milão por serem grandes cidades com maior oportunidade de emprego. E assim decidimos Milão, me parece que tinha um conhecido de um amigo aqui que recebeu meu irmão, que veio pra cá primeiro um ano antes de mim.

Você domina o idioma hoje? Já o conhecia quando se mudou?
Hoje domino o idioma, apesar de que sempre aprendemos palavras novas e o sotaque do português as vezes ainda é evidente. Quando me mudei não sabia nada praticante, minha avó cantava muito em italiano, e eu sabia cantar as músicas, mas não sabia o significado, só fui aprender aqui na Itália. Fiz um curso quando cheguei, mas aprendemos mesmo é tentando, escutando, errando e falando.

Qual o custo de vida no país? Comparando ao que tinha no Brasil, considera mais em conta ou mais elevado?
O custo de vida depende muito da região e cidade. Milão é considerada uma cidade cara. Faz muito tempo que não vivo no Brasil, não tinha salário quando vivia lá, mas com certeza aqui tem mais qualidade de vida. Mesmo ganhando pouco você consegue ter mais coisas, comprar mais coisas, não precisa parcelar tudo. Aliás, muita coisa não se parcela, pagamos tudo à vista geralmente. Em 11 anos que vivo aqui quase nunca parcelei nada.

Qual a relação de infraestrutura da cidade você faz com sua cidade natal?
Nem tudo é um mar de rosas por aqui, mas se tenho que colocar numa balança a infraestrutura de Milão com a de Vitória, é óbvio que Milão ganha disparado. Estradas limpas e sem buracos, meios de transporte funcionam bem, o preço das passagens pra quem vive aqui é bem em conta. Nem se compara com as coisas que vi no Brasil antigamente e com as notícias que sigo ainda hoje em dia.

O que te chamou atenção na cultura do país?

O que mais amo aqui é a cultura gastronômica e a diversidade cultural entre as regiões. Eles dão um valor muito grande ao alimento, á produção, preparação, as refeições. Você acaba entrando nesse mundo também e entendendo muito coisa legal. Além do mais é um lindo país pra se visitar, cada região é diferente da outra, cada região tem seus produtos, sua cultura, seus sotaques e muito mais. É óbvio que em todo país é assim em partes, mas creio que na Itália essa diferença seja mais evidente, somos acostumados a ouvir sobre cidades famosas como Roma, Florença Venezia, mas na realidade existem centenas de cidades lindas na Itália que nos apaixonamos logo ao chegar. Nesses anos que vivo aqui já conheci quase todas as regiões.

Tem alguma história engraçada/inusitada que aconteceu com você por aí?
Bom, com certeza existem várias. Desde o dia que sai do Brasil pra vir aqui, que teve atraso no meu voo no Rio e quando cheguei a Frankfurt pra fazer conexão pra Milão, não havia mais voo. Fui parado na imigração, não falo Alemão e ainda não falava nada de inglês, foi uma confusão, pra pedir informação pra achar o hotel que iria dormir, não sei como sobrevivi, rsrs. E nesses 11 anos muitas coisas aconteceram, ocorre muita cena engraçada na loja onde trabalho, pois dá muita gente todos os dias e temos clientes de todo o mundo, muita coisa engraçada, daria um livro.

O que do Brasil te faz mais falta? Em que momento você sente/sentiu mais saudade?
Hoje, após 11 anos, sinto só a falta de alguns amigos e parentes. Quando meus pais moraram por um período novamente no Brasil, senti muita falta principalmente do meu irmão mais novo, que tem síndrome de down. Não tenho saudades do Brasil como país, com a minha família por aqui não sinto necessidade nem de ir visitar. Existe muito lugar pelo mundo pra visitar, não tenho mais nada a fazer no Brasil, com o preço que se gasta com a passagem prefiro conhecer outro país.

Do que você não sente falta no Brasil?
Do transporte público por ser muito ruim e do clima também.  Em minha cidade faz calor quase todo ano. Aqui o inverno pode até ser longo e intenso, mas prefiro ao calor em todo ano. Além do mais, as quatro estações são bem mais evidentes aqui, e cada uma é aproveitada viajando, fazendo e comendo coisas ideais pra cada estação.

Você gosta da comida local? É muito diferente da brasileira?
Com certeza gosto. É diferente, mas nem tanto, porque muitas coisas prepararam semelhante no Brasil, mas muitas vezes adaptando ou modificando as receitas originais daqui. Sem dúvidas aqui é melhor, existem centenas de pratos italianos, a cozinha daqui é muito vasta e é considerada a melhor do mundo.

O que você costuma fazer nos momentos de folga? Quais os programas existem para se fazer na cidade?
Faço muita coisa nos meus dias de folga, dificilmente estou em casa e acreditem se quiser, já fazem uns 3 anos que não assisto TV. Eu passeio e viajo muito, gosto de estar sempre fazendo algo de diferente. Organizamos sempre algo, passeio muito com a família e amigos, vamos jantar e comer em restaurante também. Sempre preparamos muita coisa pra comer, rs. Existem muitos eventos na cidade, principalmente ligados ao mundo da moda, tem sempre algo pra fazer.

Você encontrou algum problema para obtenção de documentos e visto?
Não, nenhum problema, pois vim com tudo pronto pra não ter erro. Cheguei e peguei um visto familiar através do meu irmão que estava aqui há um ano e já tinha a cidadania, e após dois meses peguei a cidadania também.

O que você menos gosta na cidade, ou no país?
Milão é muito longe da praia.

Qual a relação dos nativos com brasileiros? Você possui amigos italianos?
Geralmente os italianos gostam muito dos brasileiros, seja por saber que somos um povo alegre, seja pelo futebol. Sempre me adaptei muito bem por aqui, é muito importante entender, respeitar e adquirir costumes da cultura local que pra nós brasileiros. Em relação à Itália é muito fácil se adaptar, meus amigos brasileiros na maioria são os que conquistei logo nos primeiros anos de vida por aqui, mas a maioria é italiano mesmo e uma boa porcentagem do resto do mundo. Tenho amigos de várias partes do mundo e da Itália e acho isso o máximo.

Há alguma mania/febre no país atualmente?
Atualmente sinceramente não sei, mas como em todo país, o italiano tem suas manias, por exemplo, gesticular muita com as mãos para falar, isso é muito curioso pois é uma mania que todos nós estrangeiros adquirimos. Se você aprende a falar italiano aprende em automático a gesticular com as mãos como eles.

Já encontrou algum produto ou serviço esquisito por aí?
As carnes: de cavalo, coelho e carneiro que são normais por aqui e no Brasil não. Já comi todas e adoro.

Você gosta da música do país? Tem algum cantor/banda que recomenda?
Não gosto. Eles cantam só música romântica, pop e hip-hop. Não sou fã de ninguém então não posso recomendar, mas existem os cantores mais conhecidos pelo mundo, como Laura Pansini e Tiziano Ferro.

Conhece alguma história (ou lenda) da cultura que pode contar?

Sim, você não pode começar a comer enquanto todo mundo não estiver pronto e sentado pra comer. Também não se pode começar a beber sem fazer um brinde com todos, e tem que brindar um por um e olhar nos olhos de cada um quando faz o brinde. Geralmente se faz comida pra comer tudo no mesmo momento e é boa educação comer tudo sem ter que guardar pra depois ou outro dia. O café aqui na Itália é sagrado e muito bom por sinal, muitos tomam vários cafezinhos por dia, se quiser ver alguém que não vê há muito tempo, por exemplo, eles convidam pra tomar um café.

Há muitos eventos culturais na cidade?

Sim, muitos. Tem a semana da moda e feira do móvel, a feira do artesão no final do ano. Existem muitos eventos teatrais, ballet e orquestra no famoso teatro Scala, por exemplo.

Como os italianos encaram a ameaça de terrorismo, com atentados recentes à países vizinhos? E a posição sobre os refugiados? E o que você pensa à respeito dessas questões?

Temos um pouco de receio, pois não sabemos onde e quando acontecem, e pelo fato de não ter tido algum atentado aqui, ainda temos a impressão que sempre seremos o próximo. É um assunto muito complexo, acho difícil também encontrar uma solução. A questão sobre os refugiados também é delicada, pois cada vez mais chegam e só eles sabem o que estão passando no país de origem pra chegarem até aqui. Às vezes morar na rua aqui é melhor do que viver no país deles no meio da guerra, porém a Itália juntamente com a União Europeia, e até mesmo com o resto do mundo, precisam encontrar uma solução.

Qual o seu sentimento pela Itália?


Tenho muito respeito e gratidão por tudo que conquistei aqui.

O que mudou em você antes e depois da experiência de morar fora?
Bom, muita coisa. Mudaria de qualquer forma porque com os anos amadurecemos e mudamos muito, porém viver em outro país e também conhecer muitos outros me fez abrir a mente pra muitas coisas. Muita coisa que acreditava antes, não acredito mais, me tornei muito mais cidadão do mundo, muito menos intolerante, livre de regras, teorias, religião, me sinto uma pessoa livre e de bom coração, sem esperar nada de ninguém e é só disso que eu quero e preciso.


Quais características gostaria que suas filhas tivessem do jeito brasileiro e da maneira italiana de ser?
Sem dúvidas, do Brasil, a alegria e positividade. Acho muito engraçado no Brasil ter piada pra tudo, aqui não é assim, talvez de um certo modo nem seja uma coisa positiva, mas pensa se fosse um povo triste no Brasil, já há tanto sofrimento, vamos rir em cima pelo menos, rs. Da Itália, gostaria que meus filhos tivessem um amplo conhecimento gastronômico como eles tem aqui desde crianças.

Viver na Itália é...

Olha no meu caso é comer, viajar e curtir a vida com família e amigos.

Que conselhos você daria a quem pretende visitar ou até mesmo se mudar para o país?
De vir pronto, se preparar bem.  Vir com muito dinheiro pra se manter e estar pronto pra tudo, pra não depender dos outros. Não vir sem documento, respeitar e se empenhar em aprender bem a língua, se incluir não viver aqui com a cabeça lá no Brasil. 

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