"Se eu pudesse moraria para sempre. Eu descobri que amo tudo isso aqui."

Menos de meio ano. Bastou apenas esse tempo para Daniela se encantar completamente pela Malásia e não ter o que reclamar do país asiático. Apesar disso, seu planos incluem uma volta ao Brasil nos próximos anos.

Daniela Bernardes Loyola

30 anos

Cyberjaya, Malásia

Cidade Natal: São Paulo, SP

Noiva

Você mora sozinha?

Eu moro com o meu noivo Irlandês.

Há quanto tempo está no país?

Estou no país há 5 meses.

Com o que você trabalhava no Brasil e qual o seu trabalho atual?

No Brasil eu trabalhava como Administradora Hoteleira, e trabalho há quase 7 anos fora do Brasil. Atualmente trabalho com Terapias Holísticas e com Consultoria de Imagem e Estilo. 

O que te levou a sair do Brasil?

Baixa remuneração salarial, pois sou formada em Hotelaria e o Brasil não paga bem nessa área de atuação. 

Porque escolheu a Malásia?

A Malásia nos escolheu. Na verdade foi uma oportunidade de emprego para meu noivo e vim de gaiato, aproveitei para estudar moda. 

Conhece o idioma? Já conhecia quando se mudou?

Aqui tem o idioma local, mas o inglês fica sendo o primeiro idioma falado. Eu já tinha ideia sobre a Malásia, pois eu já conhecia alguns países asiáticos, e pesquisei muito antes de me mudar. 

Qual o custo de vida? É mais barato ou mais caro em relação à sua cidade natal?

O custo de vida é bem inferior a minha terra natal (Brasil), e bem diferente dos países que morei anteriormente, em especial dos países Europeus, pois a Zona do Euro acaba deixando tudo mais caro e o custo de vida acaba sofrendo consequências. Aqui se vive melhor, os salários para expatriados são justos com o que se gasta. 

Qual a relação de infraestrutura de Cyberjaya você faz com São Paulo?

A Malásia é país de primeiro mundo, bem diferente de alguns países europeus, por exemplo, pois acredito que a Europa siga um conceito antigo, histórico. Aqui na Malásia, assim como em alguns países do continente asiático, as coisas são mais modernas. Os europeus vieram aqui e ajudaram na elaboração e evolução das coisas, mas não tem como se comparar as estradas, transportes públicos, hotéis, a saúde e a limpeza, é tudo 100%. Os asiáticos tem aquele conceito intrínseco de limpeza e zen. Cyberjaya fica à 30 minutos de Kuala Lumpur, capital da Malásia, porém a maioria das empresas estão vindo para cá, será o futuro centro comercial do país.

O que te chamou atenção na cultura do país?

Na Malásia em especial, a simpatia. Os malaios são muito, mais muito amigáveis e numa gentileza absurda. Eles adoram turistas, aprender com os turistas e moradores expatriados, uma realidade totalmente diferenciada. 

Tem alguma história engraçada ou inusitada que aconteceu aí com você?

Bom, a maior da população é muçulmana, e é cultura desses comerem com as mãos, sem o uso de talheres, então eu me senti um pouco constrangida no inicio. Com relação as minhas clientes, elas tem um pouco de vergonha de tirar as roupas (para se depilarem, fazer massagem ou cuidar da aparência), são bem envergonhadas mesmo, diferentes dos brasileiros que "andam" praticamente pelados e dos europeus, que tiram isso de letra. Então, tenho passado momentos inusitados sendo além de tudo psicóloga...haha!  

O que do Brasil te faz mais falta? Em que momento você sente ou sentiu mais saudade?

O Brasil sempre faz falta quando se trata de saudade de entes queridos. Por exemplo, eu tenho minha mãe lá, ela é minha melhor amiga, então fico com o coração apertado de ficar longe. Sinto falta de algumas coisas brasileiras, em especial da comida...eu amo arroz e feijão nacional. 

Do que você não sente falta no Brasil?

Não sinto falta nenhuma do trânsito, da falta de educação e da impaciência das pessoas nos transportes públicos e hospitais e principalmente da política, que é embaraçosa. 

Como é o mercado de trabalho na Malásia? Existem muitas oportunidades para estrangeiros?

O mercado de trabalho é aberto a todos, diferentemente do que todos pensam. A Malásia dá oportunidade para todos, os malaios são super receptivos. Mas é necessário ter uma qualificação profissional comprovada e com experiência, uma boa formação acadêmica ajuda e passa até a ser um diferencial, assim como o inglês fluente. 

Você gosta da comida local? É muito diferente da brasileira? Como é a alimentação deles?

A comida local é BEM apimentada, mas, não é tão diferente da Brasileira, pois aqui comemos muito arroz, legumes e todas as frutas que tem no Brasil, se encontram aqui, desde goiaba branca até jaca. 

Os malaios tem seus pratos tradicionais (próprios), que não deixam de ser peixe, arroz e legumes, porém bem temperado, e esse tempero chama-se pimenta. E as sobremesas são muitos doces, mas doces mesmo, com muito açúcar...bem coloridos e em diversos tamanhos e modelos, desde bolos até gelatinas.
Como é um "país de muçulmanos", temos algumas restrições, tais como: não se come carne de porco e não bebem álcool, mas devido aos expatriados, mudaram muito as "regras" do país. Se encontra facilmente bebida alcoólica e em específicos lugares carne e carne de porco, mas é bem caro com relação a de frango (galinha, peixe) e não álcool. Meu noivo que, como disse anteriormente, é irlandês, quase tem um treco aqui, ele só bebe Guinness, então já viu, gasta 14% do salário daqui com cerveja...hahaha.

O que você costuma fazer nos momentos de folga? Quais os programas e lazeres existem para se fazer na cidade?

Todos os finais de semana e feriados eu e meu noivo vamos conhecer o país como um todo, vamos a todos os pontos turísticos e principalmente os pontos de encontro dos locais, ou seja, em lugares frequentados pelos malaios, pois só assim a gente sente como é realmente a vida deles, vivenciando, se enfiando no meio, fazendo amizades com eles, fazendo que eles fazendo e comendo igual a eles: com as mãos. 

Você encontrou algum problema para obtenção de documentos e visto?

Bom, normalmente um brasileiro vem até a Malásia com o visto de turista, que é valido por 3 meses, muitos se apaixonam e acabam ficando para fazer algum curso universitário e aí as universidades emitem o visto de estudante anual, que deve ser renovando a cada 3 meses. Porém, com a carta da universidade na imigração eles liberam facilmente, basta estar matriculado e frequentar as aulas. 

Eu não tive esse problema, pois estou com o visto de acompanhante do meu noivo, que tem o visto da empresa que ele trabalha. No caso de alguma contratação, as empresas emitem o visto de trabalho (work-permit) para os brasileiros, basta obter a vaga.

O que você menos gosta na cidade, ou no país?

Eu amo tudo, sou suspeitíssima para falar. Realmente não tenho resposta para essa pergunta, eu amo tudo! 

Qual a relação dos nativos com brasileiros? Você possui amigos malaios?

Eles são muito amigáveis e possuem educação mil. As vezes são tão educados que nos assustam  com tamanha cortesia. Eles adoram estrangeiros, e quando se fala que vem da América do Sul então, eles adoram! Confesso que não são todos que conhecem o Brasil, em especial as pessoas mais locais, mas os que conhecem já logo associam Brasil - Copa do Mundo 2014. Bem legal! 

O que é falado sobre o Brasil por aí?

No momento apenas Copa do Mundo, mas os que conhecem um pouco mais nossa história falam de tudo, até do Carnaval.

Gostam da música brasileira? Como é a repercussão das nossas músicas aí?

Bom, eles conhecem a música do Jorge Bem Jor, Mas que nada (Mas que nada), Eu quero tchu, do João Lucas e Marcelo e claro, Michel Telô (Ai se eu te pego). Mas, muitos pensam que são músicas de portugueses, pois tem uma cidade aqui que foi colonizada pelos portugueses, chama-se Malacca, hahaha. Sempre que eu tenho a oportunidade eu digo, não essas músicas são nossas, BRASIL!

E Bossa Nova, quem frequenta a Starbucks aqui, só ouvi isso. Outros restaurante que tocam muita Bossa Nova do Brasil é a Rede de Restaurante Nando's, que é super conhecida mundialmente. Lá toca Bossa Nova quase o dia todo, os donos são Portugueses. 

Quais são os principais ídolos atualmente no país?

O país todo é maluco pelo time de Barcelona. Sim, eles conhecem o Neymar, mas, aqui são mais os homens que acompanham futebol. O time de Barcelona ficou famosos aqui na Ásia pois a Qatar, que é uma companhia aérea árabe e faz muitos voos na Ásia toda, começou a patrocinar o time, então isso ajudou muito, e também porque os asiáticos não são tão bons assim no futebol, vamos combinar! Acho que eles preferem as artes marciais, hehehe. 

O que você costuma assistir na TV?

Sim, assisto todos os dias, a TV local é em malaico, mas alguns tem legenda. Os programas de comédia, tipo Zorra Total aí do Brasil, são muito engraçados, eles são muito, mais muitos criativos e felizes.

Há alguma mania/febre no país atualmente?

Olha, volta e meia aparece de doença, como o ataque da Febre Amarela. Em algumas cidades há muita epidemia de Malária. Eu já tive Malária quando eu morava na África, então rezo todas as noites para não ter novamente. 

Você conheceu ou utilizou algum produto ou serviço que recomendaria a ser utilizado no Brasil?

Bom, são inúmeros produtos e serviços que na verdade eu recomendaria todos ao Brasil, pois parece que a Malásia não tem apenas 12 horas de diferença a frente no fuso, e sim que são 12 anos. Os malaios estão muitos mais adiantados que nós. Mas, certamente o mais interessante é o sistema de transporte público, pois alem de trem e metrô, aqui temos um tipo: Fura Fila, chamado Monorail. Ele é pequeno, tem dois vagões, mas é largo e espaçoso por dentro, é super rápido e barato. 

E algum produto ou serviço esquisito, já encontrou por aí?

Acho que não chega a ser nada esquisito, apenas diferente, mas tem dois restaurantes aqui que me chamaram a atenção. O primeiro nas mesas tem tipo um fogãozinho elétrico, e o cliente que cozinha a comida, hahaha. A gente escolhe no cardápio o que queremos e vem tudo congelado, aí preparamos os miojos, cozinhas os ovos, e os demais frutos do mar. Tipo, quem vai num restaurante preparar sua própria comida em cima da mesa? No dia que fomos (eu e meu noivo), eu estava morrendo de fome, totalmente faminta, e ter que esperar ficar pronto, cozinhando na minha frente...foi frustrante, porém engraçadíssimo. 

O outro restaurante eu visitei no dia do meu aniversário agora em novembro, e ele tem um propósito bem bacana: os clientes comem no escuro. Sim, no escuro total. Eles simplesmente apagam as luzes e temos que comer uma comida que não temos ideia do que esta sendo servido (afinal, estamos no escuro). Então, a proposta é usarmos nosso tato e paladar, assim como os deficientes visuais. E detalhe, todos os atendentes do restaurante são cegos. No final (após 2 horas de jantar), eles levam a gente em uma sala de espera e nos mostram o cardápio servido. É muito legal tentar adivinhar o que está comendo, eu me senti na cozinha do Hell's Kitchen, e ao mesmo tempo é interessante se sentir "cega" por um dia e ver como essas pessoas especiais tem algumas dificuldades, porém tem vidas como uma pessoa normal qualquer. 

A população se envolve muito com a política? Como ela é no país?

O país tem um regime político que funciona da seguinte forma: o governo é uma Monarquia Constitucional, onde o chefe de Estado é um Sultão, que nada mais é que um título de honra conferido a príncipes e soberanos muçulmanos. Embora o esquema seja dessa forma, a política é parlamentarista, ou seja, o sistema do governo oferece a sustentação política (apoio direto ou indireto) para o poder Executivo: Primeiro Ministro, e isso dá a vantagem de flexibilidade ao país, ou seja, o Primeiro Ministro pode ser trocado (se necessário) e rapidamente, diferente de um regime presidencialista (que o presidente "cumpre" o mandato até o fim).

Você é noiva de um irlandês: Eles são mais bonitos que brasileiros e malaios? 

Hahaha! São três perfis completamente diferentes. Geralmente os irlandeses são loiros e tem olhos claros, mas o meu noivo saiu fora dessa regra, ele é moreno de olhos castanhos. Eu acho ele muito mais bonito que muitos brasileiros, e muitas pessoas acham ele feio, mas eu AMO homem feio. Hahaha! O que importa é o charme! Os brasileiros em geral tem uma cor de pele bonita e são atraentes, e os malaios não ficam muito atrás não, eles são bem mestiços, a maioria tem a pele cor de jambo e olhos puxados, então imagina o mix. Tudo isso porque tem uma grande demanda de indianos e chineses por aqui, então cada um herda a genética de seus parentes.  

Você gosta da música do país? Tem algum cantor/banda que recomenda?

Bom, as músicas locais são na língua local, não se entende nada, porém parecem ser bem animadas e dançantes. Existem vários ritmos como os nossos aí do Brasil, mas o que faz sucesso aqui são as músicas inglesas, árabes e indianas. 

Conhece alguma história (ou lenda) da cultura que pode contar?

Nossa, conheço várias, eu sou mega curiosa com essas coisas de superstições e já me informei sobre a maioria. Eu ficaria horas contando muitas, mas as mais interessantes são: se você encontrar uma cobra em casa (no quintal), não deve a matar, porque se matar a criança que tiver em casa (ou quando tiver uma criança) crescerá com problemas mentais/pessoais. 

Uma outra é que se uma mulher nova e solteira estiver cozinhando, ela não deve cantar, porque se cantar enquanto estiver cozinhando, ela terá (atrairá) um esposo mais velho (de idade). E também que as crianças não devem brincar ao por do sol, porque senão os fantasmas (outras almas) aparecem, pois esse é o horário que as almas circulam. 

Existe algum programa do governo que lhe chame a atenção?

Acho que o programa do governo que mais me chama atenção é o fato dele motivar as pessoas mais velhas a trabalhar, ou seja, aqui não tem discriminação de idade, ontem mesmo no Mc Donald's paramos para tomar um Milk Shake e quem preparou para gente foi uma senhora de aparentemente 60 anos. Quando olhamos ao redor, tinha mais senhoras trabalhando. Elas são ativas e o governo pede para que essas empresas (estrangeiras) instaladas aqui abram oportunidades para todos, independente da cor, credo e classe social. O mesmo acontece com os adolescentes, o esquema de primeiro emprego acontece super certinho, desde estágio até vagas permanentes, não tem tanta exigência com relação a experiência profissional, o importante é estar motivado para o tal.

Pensa em voltar para o Brasil? Se sim, quando?

Eu penso em voltar ao Brasil para morar no futuro e abrir meu próprio negócio no interior de São Paulo, falta pouco agora, mas ainda tenho que fazer mais alguns cursos e a fim de levar novidades. 

Qual o seu sentimento pela Malásia?

Se eu pudesse moraria para sempre. Eu descobri que amo tudo isso aqui. Sentirei muita falta de tudo e todos. Está sendo uma experiência ímpar vivenciar esse mundo ZEN. 

O que mudou na Daniela após a Malásia?

Tem mudado os meus conceitos gradativamente, pois tenho um gênio bem difícil (eu confesso), e sempre acreditei que as pessoas não mudam, mas os sentimentos sim. Então eu continuo com minha essência, porém mais light e super aberta a mudanças e aceitações que talvez no passado eram impossíveis pra mim! Acho também que hoje eu vou conseguir identificar melhor quem realmente é puro e as pessoas que dizem "Namastê" mas são ruins e descrentes. A Malásia tem me dado o poder de sentir esse "feeling" nas pessoas ao meu redor. 

Se tivesse um filho, quais características ensinaria/gostaria que ele tivesse do jeito brasileiro e da maneira malaica de ser?

Certamente gostaria que ele fosse sereno como esse povo aqui. Eu vou ensinar pra ele exatamente o que eu tenho vivido aqui: buscar a paz, ser paciente e principalmente ser humilde. Não que o povo brasileiro não tenha essas qualidades, mas acho que falta um pouco de compaixão em ajudar o próximo. Muitos fazem as coisas esperando um algo em troca e isso é vergonhoso. 

Que conselhos você daria a quem pretende visitar ou até mesmo se mudar para o país?

Para quem vem a passeio (apenas visitar): venham de malas vazias, porque as coisas aqui são baratas demais. Agora, para quem vem morar: tragam óleo de amêndoas, remédios de sua preferência, panela de pressão e outras coisas pessoais que só se encontra no Brasil. Vocês até podem achar essas coisas citadas aqui, mas, por serem importadas (não terem fabricação própria aqui) fica difícil de encontrar, a questão não é nem tanto o preço e sim a dificuldade de encontrá-las.

Por último, defina: viver na Malásia é...

Encontrar a paz de espírito, compartilhando experiências vividas de uma forma simples e com a intenção de ajudar o próximo, sem exibicionismo e sim dividindo acontecimentos bons em prol da humanidade. Eu realmente precisava desse momento em minha vida. Sou muito grata pela oportunidade e os meus companheiros: minha mãe, meu noivo e amigos queridos também.